O Conflito
O que qualquer um de nós tem a ver com uma guerra do outro lado do oceano? A guerra da Ucrânia têm se arrastado por um longo período e seus efeitos já podem ser sentidos em todo o globo. Em um mundo interconectado, mesmo os mais distantes conflitos e problemas podem nos afetar, de um modo ou de outro. E na questão ucraniana enxergamos o retorno das disputas entre um mundo cada vez mais multipolar. Orbitando em torno do eixo de duas potências, o mundo observa cheio de expectativa e perplexidade o que tem se tornado cada vez mais um jogo de xadrez entre Estados Unidos da América e Rússia. A questão na Ucrânia se manifesta por diversos motivos. E, nesse novo panorama, enxergamos antigas questões oriundas de guerras históricas, e um mundo bipolar que nos lembra aquele mesmo que se manifestava na Guerra Fria.
Viktor Yanukovych, ex-presidente da Ucrânia. |
O Cenário
A tensão já era constante na Ucrânia antes mesmo do atual conflito. Cada vez mais dividida e pressionada a se aliar a um Euro em constante dívida e recessão ou à Rússia, com a qual antigas questões ainda se fazem presentes, o governo ucraniano vinha tomando a escolha preferencial por relações mais amigáveis com o Moscou. O último presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovych, se aliava cada vez mais com o premiê russo Vladimir Putin. A proximidade com a zona do Euro e as forças ocidentais da OTAN, em uma área de influência majoritariamente norte-americana, criou um séria tensão e um temor de que a presença russa na região se intensificasse. Podemos, assim, considerar que a primeira causa da atual ruptura ucraniana foi a intenção de barrar essa expansão de influência por uma potência oposta. As estreitas relações entre Yanukovych e Putin despertaram preocupação nas potências ocidentais e o medo de uma instabilidade na região. Entretanto, essa instabilidade só tomou forma após o golpe de Estado auxiliado pelas potências ocidentais.
Yulia Tymoshenko, uma das líderes do novo governo. |
A Revolução Laranja
Na Ucrânia, a população se dividiu em dois grupos: os separatistas pró Rússia e os nacionalistas ucranianos. Um grupo ucraniano dito nacionalista, o Pravy Sektor ( em ucraniano) levou adiante um golpe de Estado, derrubando o presidente Yanukovych, por se manifestar contra aquilo que chamam de imperialismo russo. Após esse ato chamado de "Revolução Ucraniana" (também conhecida como Revolução Laranja), em 2014, numa longa série de enfrentamentos com as forças policiais que ocasionaram várias mortes e inúmeros feridos, a junta do grupo nacionalista Pravy tomou o comando do país e quase que imediatamente cortou suas relações diplomáticas com a Rússia, se aliando ao Euro. Em lugar de Yanukovich, a histórica política de oposição Yulia Tymoshenko tomou lugar na nova administração do país, em um governo revolucionário considerado temporário. O governo revolucionário não foi reconhecido por Moscou. Desde então, assistimos a guerra entre os nacionalistas apoiados pelo Euro e pelos EUA e os separatistas amparados por Moscou.
Foto de um manifestante ucraniano. |
Um povo dividido
A Ucrânia está dividida dentro de si mesma. De um lado, os nacionalistas contrários à Rússia e ao que eles consideram como seu imperialismo histórico, movidos pelas lembranças dos fatos da Rússia Imperial, da Segunda Guerra Mundial e as ações da União Soviética em relação a seu país. Estes nacionalistas possuem um forte sentimento anti russo e enxergam a necessidade de um afastamento cada vez maior em relação a Moscou. Do outro lado, a grande parcela da população ucraniana de origens russas, que não enxerga Putin como um inimigo, defendem a proximidade entre os dois povos e, até além, manifestam desejo de romper com o atual governo de Kiev e se inserir no território russo. É o que aconteceu, por exemplo, com a província de Donetsk, que se separou da Ucrânia e se integrou à Rússia. Conflitos armados são comuns entre os exércitos separatistas populares e as forças fieis ao novo governo de Kiev. De um lado, os revolucionários que recebem apoio norte-americano, e do outro, os separatistas que se alinham cada vez mais com a Rússia.
Guerra entre Irmãos
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Foto tirada em um dos protestos da Revolução Laranja, em um confronto entre forças policiais e manifestantes |
A ancestralidade ucraniana encontra muitos pontos em comum com a russa. De fato, os dois países possuem praticamente o mesmo escopo histórico. O próprio alfabeto ucraniano é herança do cirílico e da língua russa. O território onde hoje se encontra o Estado da Ucrânia pertencia historicamente às composições russas, tanto que era designado não como um país diferente, mas como uma das províncias do Império czarista. As formas nacionalistas ucranianas surgiram mais tardiamente, naquilo que podemos considerar como "nacionalismo artificial". Apesar das divergências e conflitos históricos entre os dois países, podemos dizer que a atual guerra é uma guerra de irmãos, povos com o mesmo passado histórico e cultural derramando sangue entre si.
Influências Globais
Influências Globais
Nenhum confronto, atualmente, é regional. Seus efeitos são sentidos em todo o mundo. A economia, cada vez mais interligada e interdependente, ajuda a tornar esses efeitos ainda mais perceptíveis. O conflito não é apenas ucraniano, pois envolve duas super potências atuais: Os EUA e a Rússia. A balança de poder está cada vez mais equilibrada, e o mundo que antes orbitava apenas em redor das potências anglo-saxãs agora se orquestra em torno de dois eixos. Todos os países do mundo possuem relações com essas duas potências, e os efeitos da guerra e consequentes sanções serão percebidos por todos eles, em maior ou menor grau. A guerra na Ucrânia, assim como qualquer guerra no mundo atual, é também uma guerra nossa. Esse conflito é apenas um campo de testes e a medição de forças entre superpotências globais.
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