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Foto de um T-34 em liberação de uma cidade soviética. Este modelo seria utilizado durante todo o restante do conflito, e seria remodelado em várias versões posteriores, algumas utilizadas ainda hoje. |
Poucos armamentos mudaram tanto o curso de uma batalha quanto o tanque soviético modelo T-34. Em um cenário de visível predominância alemã, quando inúmeros contingentes do Exército Vermelho haviam sido capturados ou vencidos, parecia impossível uma virada no jogo. Entretanto, esse monstro de aço se mostraria um trunfo e uma das mais brilhantes saídas para um conflito de resultado praticamente irreversível.
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Ficha técnica do tanque T-34 (modelo soviético de 1941) |
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Alexander Alexandrovich Morozov |
Quando os alemães invadiram a União Soviética em 22 de Junho de 1941, dando início à chamada Operação Barbarossa, os principais modelos de tanques utilizados por eles eram os da linha Panzerkampfwagen. Os principais inimigos do T-34, na época, eram justamente os modelos Panzer II, Panzer III e Panzer IV. As primeiras semanas da operação Barbarossa demonstraram um rápido avanço das forças do Eixo, e uma incrível desorganização nas tropas soviéticas. Entretanto, com o início do inverno russo, as imensas planícies logo se converteram em campos de lamaçal e também de espessas camadas de neve, o que determinou um refreio no avanço alemão. Esse meio tempo seria crucial para que o T-34 saísse do forno. Dois homens tiveram papel decisivo na produção desse tanque e posteriores melhorias: Mikhail Ilyich Koshkin, considerado o inventor e responsável pelo projeto de criação do T-34; e Alexander Alexandrovich Morozov, responsável por refinamentos e melhorias no sistema de tração e mecanismos deste modelo, bem como a produção das linhas da geração seguinte de tanques T-54 e T-55.
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Mikhail Ilyich Koshkin |
Seu primeiro uso, em encontros contra os tanques Panzer mostrou a grande superioridade do modelo soviético em relação aos até então invencíveis modelos alemães. O T-34 conseguia ser mais leve, mais rápido e, ao contrário de outros tanques da época, era capaz de perfurar a blindagem da série de modelos Panzer. O único armamento à altura do T-34 até então, capaz de superá-lo, era o Howitzer, uma peça de artilharia pesada fabricada e utilizada pelas forças nazistas. A blindagem do veículo soviético mostrou claramente uma admirável vantagem em relação aos modelos contemporâneos. Com uma inclinação específica, as chapas de aço se curvavam em um ângulo que facilitava o ricocheteio dos projéteis. As espessas chapas de metal que compunham a fuselagem, entretanto, diminuíam consideravelmente o espaço interno do T-34, o que causava um enorme desconforto para a tripulação desses tanques, além de representar uma dificuldade para a evacuação em casos de incêndio ou danificação no veículo. Outro problema considerável eram as grosseiras caixas de câmbio que dificultavam a movimentação e manobra do veículo, fator que não permitia, muitas vezes, a obtenção de vantagem estratégica da capacidade total de velocidade do veículo. Em combates de maior proximidade, essa dificuldade se mostrava claramente um fator prejudicial que colocava o T-34 em desvantagem. Mesmo assim, durante todo o seu uso na Segunda Guerra Mundial, o T-34 mostrou grande capacidade de combate e assistiu diversas melhorias que gradualmente o tornaram mais avançado e eficiente.
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Linha de montagem de tanques T-34. A maior parte da indústria bélica soviética foi transportada para Leste, nos Urais. |
A resposta alemã veio rápido. A nova série de tanques Panzer Tiger, Super Tiger e Panther apareceu com maior mobilidade e velocidade, blindagem reforçada e canhões de calibre mais pesado, capazes de perfurar a blindagem dos T-34. Estes modelos logo se mostraram à altura dos tanques soviéticos, que, na tentativa de conservar sua supremacia, também ganharam novas versões com sistemas de câmbio mais maleáveis, maior blindagem e maior poder de fogo. Os alemães também capturaram diversos tanques T-34, rebatizando-os de Panzer T-34, os quais colocaram à serviço da Wehrmacht. Estes veículos capturados os ajudaram a compreender melhor os pontos fortes e fracos desse modelo, e, desse modo, realizar melhorias nos próprios tanques nazis. Hans Guderian, um dos maiores estrategistas nazistas, chegou a dizer que o T-34 era a "mais mortífera das armas" daquele combate.
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Tanque T-34 capturado pelos alemães. |
Por melhores que sejam os equipamentos militares, o fator humano sempre se mostra preponderante não só em qualquer batalha, mas também em qualquer situação. Os alemães possuíam inúmeros pilotos e tripulações experientes, além de exímios estrategistas com tanques, como Guderian e Rommel (na África). Embora os russos Zukhov e Konev sejam nomes à altura, vemos uma clara dificuldade em suas estratégias, tanto por questões políticas quanto pela falta de pessoal experiente. Os alemães já traziam consigo as bem sucedidas campanhas na Europa, especialmente contra a Polônia e a França. Do lado soviético, a maioria dos soldados não possuía qualquer treinamento, sendo recrutados à força e mandados aos campos de batalha às pressas. Era comum encontrar tripulações com menos de 5 horas de treinamento nos campos de batalha. A maioria dos generais experientes, vindos da Revolução de 1917, da Primeira Guerra Mundial e dos conflitos iniciais da Segunda Guerra haviam sido exterminados nos Expurgos políticos e administrativos de Joseph Stalin. Os soviéticos perderam cerca de 20.500 tanques na Segunda Guerra Mundial, 7 tanques para cada tanque alemão. A maioria dos T-34 destruídos, entretanto, não foi por fogo direto dos alemães, mas sim por acidentes, falhas de mecanismos, falta de combustíveis, falta de reparos ou até mesmo por abandonos. Os ataques precipitados, a falta de suprimentos e as extensas linhas de frente de combate dificultavam a manutenção dos equipamentos. Por mais superiores que os tanques soviéticos fossem, suas equipes sem experiência não estavam à altura dos amadurecidos alemães. Podemos considerar que a quantidade, nesse caso, foi o elemento para a vitória soviética. A produção de tanques era absurda: Entre Junho de 1941 a Maio de 1945, 64.549 tanques da linha T-34 foram produzidos, sem contar com os demais modelos de veículos. Apesar dos inúmeros erros soviéticos, podemos considerar que o T-34 foi um equipamento decisivo na virada do jogo na Segunda Guerra Mundial, responsável pelas primeiras derrotas dos alemães. De Stalingrado a Berlim, foram muito úteis e até hoje são utilizados em diversos países, principalmente nações asiáticas e árabes. Desempenhou um importante papel em guerras posteriores, como a guerra do Yon Kippur entre Israel e as nações árabes, a guerra da Coreia e outros confrontos da Guerra Fria. É utilizado ainda pelas forças sírias, por exemplo, na atual guerra da Síria.
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