A Primeira Guerra Mundial, também conhecida como Guerra das Trincheiras, foi palco para inúmeras inovações militares. Dentre elas podemos destacar a difusão do uso de metralhadoras (anteriormente, um artigo de "elite" pouco disponível), o primeiro tanque de guerra (o modelo britânico Mark IV), o primeiro uso militar de aviões (e o surgimento dos primeiros ases da aviação, como o famoso piloto alemão Manfred von Richtofen, conhecido como Barão Vermelho). Entretanto, certamente a maior dessas inovações foi o uso de armas químicas durante boa parte do primeiro conflito mundial.
Soldados da Quinquagésima Quinta Divisão do Exército britânico atingidos por gás. |
Soldados de infantaria britânica atacados por gás venenoso durante o avanço. |
O avanço de um ponto a outro era extremamente difícil para as tropas durante a Primeira Guerra Mundial. As posições inimigas eram completamente entrincheiradas e ninhos de metralhadora aguardavam ansiosamente o avanço das tropas inimigas para realizar um massacre. As perdas humanas foram gigantescas: só pelo "fogo amigo" morreram cerca de 75.000 soldados, somente nas forças britânicas. Além disso, inúmeros obstáculos físicos existiam, como arames farpados de até dois metros de altura, cercas e cavaletes, e, algumas vezes, até mesmo estacas. Mesmo com o uso de pesadas artilharias, era extremamente difícil eliminar os inimigos entrincheirados. As armas químicas surgiram especificamente com esse propósito: matar o adversário dentro das próprias trincheiras, antes do avanço dos soldados. Diferente das peças de artilharia, as bombas químicas e o gás utilizado tinham um efeito de área, se propagando com facilidade pelo ar. Logo, o número de mortos era muito maior e isso ocorria de modo mais fácil. As primeiras armas químicas eram gases inseridos dentro de bombas, geralmente atirados por peças convencionais de artilharia.
O uso de armas químicas foi proibido em duas ocasiões: na Declaração de Hague em 1899 e na Convenção de Hague, em 1907. Tais proibições não surtiram efeito nenhum: até o fim da Primeira Guerra Mundial, mais de 124.000 toneladas de armas químicas foram produzidas. A França foi a primeira nação a utilizar gás venenoso no conflito, usando o famoso "gás das lágrimas", além de armas compostas de bromo acetato etílico e cloro-acetona. A Alemanha utilizou armas químicas pela primeira vez contra tropas britânicas, em 27 de Outubro de 1914, com armas compostas de clorosulfonato de dianisidina, na batalha próxima a Neuve-Chapelle, na França. Os efeitos destas armas químicas variavam, indo desde simples irritações nos olhos, boca e nariz, até mesmo graves queimaduras na pele, asfixia e destruição dos pulmões. As vítimas não eram apenas militares: estima-se que cerca de 260.000 civis tenham sido vitimados por armas químicas durante o conflito.
Soldado britânico utilizando equipamento antigás. |
Em resposta às armas químicas, também surgiram as primeiras proteções. Os primeiros equipamentos consistiam em simples panos umedecidos com água colocados no rosto, protegendo principalmente a boca e o nariz. Depois, surgiram as primeiras máscaras contra gás, que ofereciam proteção maior contra os efeitos infecciosos das armas químicas. Estas máscaras evoluíram, passando a cobrir todo o rosto. Entretanto, muitas vezes uma má vedação desses equipamentos fazia com que eles não detivessem completamente a entrada de gás. A proteção contra gases foi estendida às populações civis das regiões próximas aos combates, bem como foi feita a construção de inúmeros abrigos. Até mesmo os animais passaram a ganhar proteção, inclusive os cavalos, ainda essenciais para o transporte de pesados equipamentos e peças de artilharia. O equipamento era semelhante ao utilizado por humanos, apenas tendo seu tamanho e sua vedação adaptados à constituição de cada animal.
Soldados da cavalaria de patrulha alemã utilizando proteção antigás juntamente com seus cavalos. |
O uso de armas químicas redefiniu toda a engenharia de guerra. Estes artefatos ganhariam mais e mais espaço nos diversos conflitos, e apesar dos esforços internacionais para a proibição do uso de armas químicas, como a famosa Convenção de Genebra, tais armamentos continuam mundialmente ativos, principalmente pelas potências que, ironicamente, assinam e ratificam esses tratados. A posterior evolução da guerra biológica e dos armamentos nucleares e atômicos daria um novo enfoque à guerra não convencional. Os efeitos destes gases são cada vez mais nocivos e destrutivos, e o avanço das tecnologias para bombardeamento permitem que seus efeitos vão muito além de um mero uso em trincheiras.
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