Milicianos populares no México: guerra contra o narcotráfico |
Quando uma situação de violência social foge do controle do governo e as forças policiais convencionais não são mais capazes de lidar com a questão e resolver de modo eficiente o problema da violência, muitas vezes uma das soluções encontradas pelo povo é a auto-defesa. No México, país onde a guerra do tráfico tem dizimado o maior número de pessoas em todo o continente, surgem milícias populares de vigilantes, pessoas armadas do povo que resolveram fazer o trabalho de proteger o próprio patrimônio e as próprias vidas.
Nas milícias, as mulheres também lutam com bravura. |
La guerra
O México enfrenta o pior quadro de violência social em decorrência do tráfico de drogas. O problema está presente em todas as regiões do país, e os famosos cartéis movimentam bilhões em narcóticos, especialmente enviados para os EUA e Europa. Os países da América Central servem como corredor e também são afetados pelo crime organizado. O governo mexicano declarou uma guerra total contra os cartéis e tem mobilizado tanto as forças policiais quanto as próprias forças armadas contra o tráfico, mas os resultados não tem sido bem sucedidos. Todos os anos, milhares de jovens morrem por conta da guerra do tráfico, diversos postos de empregos são fechados e os prejuízos humanos em geral são muito superiores aos danos materiais. Isso sem contar a vida de inúmeros policiais que se perdem nesse combate sem fim.
Irmãos de crime
As ações recentes do governo mexicano parecem demonstrar um caráter de intolerância em relação ao tráfico e ao crime organizado, como se o governo assumisse sua própria honestidade. Acontece que diversos setores políticos e várias autoridades policiais e das Forças Armadas mexicanas são envolvidos com o crime organizado, recebem propinas e subornos e facilitam a vida dos bandidos. Isso amplia o sentimento de vulnerabilidade do povo comum e piora a situação do narcotráfico no país.
Milicianos populares armados contra o tráfico. |
Ação popular
A corrupção na polícia, a ineficiência das ações do governo e a incapacidade das autoridades diante de um problema aparentemente insolúvel têm estimulado na população a vontade de se auto-defender. Vários cidadãos mexicanos, especialmente nas áreas rurais, compram armas e fazem treinamentos em táticas de guerra e colocam eles mesmos os traficantes para correr. Estes grupos, conhecidos como grupos de vigilantes, conseguem maior sucesso na luta contra o narcotráfico e chegaram até mesmo a recuperar inúmeros territórios que anteriormente estavam nas mãos dos traficantes.
Os agricultores são os principais soldados populares contra o tráfico |
Direito de sobreviver
Como os envolvidos nas milícias são pessoas do povo, e não autoridades de terno e gravata distantes da realidade popular, não aceitam subornos: suas vidas e sua liberdade não têm preço. Os maiores interessados na segurança do povo são os próprios membros da sociedade civil mexicana, que é a maior vítima de uma guerra entre um poder corrupto e criminosos que não possuem qualquer escrúpulo. O governo mexicano agora reconheceu oficialmente a legitimidade das milícias populares, pois percebeu que sua ação é inevitável e não há como desmobilizar estes grupos.
O medo infundado das autoridades é de que os grupos populares atuem contra o próprio governo |
Contratempos
O temor é de que estes grupos populares sejam subvertidos e usados para fins negativos, trocando o narcotráfico por outras atividades criminosas, além de representar um perigo para a população. Este temor não é totalmente infundado, mas é exagerado: o povo mexicano apenas reage a um contexto insustentável. O problema das drogas no país é uma questão histórica e a conivência das autoridades criou uma atmosfera de total desconfiança da população em relação ao governo, e agora confiam mais nas próprias milícias do que nas forças policiais. Os grupos populares até mesmo realizam julgamentos e efetuam prisões, construindo todo um poder à parte da estrutura do Estado.
Os milicianos fazem o trabalho que a polícia não consegue fazer |
Dura lição
Agora sob o governo de Enrique Peña Nieto, o México enfrenta um endurecimento de sua situação caótica. A ineficiência política abriu caminho para um sentimento de irmandade e autossuficiência popular. A reação armada é a única e desesperada saída para uma situação terrivelmente calamitosa. Quando um governo ou as autoridades em geral falham em proteger o povo e oferecer condições mínimas para sua sobrevivência, a ação autônoma popular parece uma resposta mais eficiente. As milícias populares no México são o gesto de sobrevivência de um povo esquecido.
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