Benito Mussolini acompanhado de Adolf Hitler. A doutrina fascista inspirou largamente o Nazismo. |
Benito Mussolini foi uma das mais importantes
figuras políticas da Itália, ativista político e o mais célebre idealizador da
doutrina fascista. Promoveu a industrialização da Itália, consolidou o domínio
sobre as colônias do país e empreendeu melhorias na máquina militar do país.
Através da oratória e de manobras políticas, conquistou grande adesão do povo e
de setores tradicionais da sociedade italiana, como a Igreja e as antigas oligarquias.
A precipitação da Itália na Segunda Guerra Mundial causou a ruína do regime e
Mussolini acabou assassinado por guerrilheiros italianos.
Nasce o Duce
Na pequena cidade de Predappio, na província de
Forli, na Itália, nascia Benito Amilcare Andrea Mussolini, no dia 29 de Julho
de 1880. De origem pobre, filho de Alessandro Mussolini, um ferreiro, e Rosa Maltoni,
professora, já cedo demonstrava um comportamento agressivo. Chegou a ser
expulso do colégio católico que frequentava por conta de mau comportamento,
mas, com boas notas, concluiu seus estudos. A figura do pai foi crucial para a
formação política e ideológica de Mussolini. Amilcare, um socialista com ideais
nacionalistas, influenciou o filho desde ainda muito cedo, quando ambos
trabalhavam juntos na ferraria da família.
L'Avvenire del Lavoratore
A juventude de Mussolini foi movimentada e ele acabou por se engajar em
diversas atividades de ativismo e propaganda ideológica. Em 1902, fugiu para a
Suíça, evitando o serviço militar italiano. Escreveu para o jornal L'Avvenire
del Lavoratore (O Futuro do Trabalhador), um jornal socialista italiano
impresso na Suíça. Em 1903, foi preso por agitações em greves, e em 1904 foi
preso por falsificação de documentos. Serviu no exército italiano de 1905 a 1906,
e depois começou a trabalhar como professor.
Benito Mussolini. |
Lotta di classe
Em 1908, Mussolini foi para Trento, local
originalmente italiano, mas na época dominado pelo Império Austro Húngaro. Em
1910, trabalhou no jornal Lotta di Classe
(Luta de Classes), em sua cidade natal. Publicou o Il Trentino veduto da um Socialista (O Trentino visto por um
Socialista), no periódico radicalista La
Voce (A Voz). Em 1911 participou de uma forte manifestação contra a guerra
entre a Itália e a Turquia, em território líbio, e em resultado disso ficou
cinco meses preso. Ao sair, trabalhou como editor do jornal de cunho socialista
Avanti! (Avante).
Mussolini, quando preso em 1903. |
Ruptura
Durante sua participação nos movimentos socialistas
italianos, Mussolini começou a deixar nítidas as suas próprias diferenças ideológicas
em relação aos movimentos italianos de Esquerda. Enquanto estes movimentos eram
majoritariamente internacionalistas de cunho marxista, Mussolini possuía um
traço mais nacionalista e um socialismo dissociado da doutrina marxista. Assim,
ele se desvinculou progressivamente dos movimentos socialistas italianos.
Esquerda ou Direita?
É praticamente impossível alojar a figura de Mussolini em um dos espectros
políticos. Não pode se encaixar na Esquerda, pois, apesar de sua aproximação
com os socialistas, desvinculou-se deles e tornou-se ferrenho crítico do
Marxismo. De fato, as políticas sociais de Mussolini eram mais alinhadas a um
corporativismo estatal do que a uma coletivização socialista. Nem pode ser
alocado na Direita, por se opor contra os setores conservadores da sociedade
italiana, e principalmente por sua atividade anticlerical e sua oposição à
doutrina de livre mercado. Existem elementos das duas vertentes na figura de
Mussolini e na doutrina fascista, mas isso não define nem ele nem o seu movimento
como “de Esquerda” ou “de Direita”.
Mussolini em um discurso público. Através da oratória, ele obteve amplo apoio popular. |
Primeira Guerra
Mussolini serviu durante nove meses no exército
italiano. Contraiu, nesse período, febre paratifoide, e em 1917 saiu da ativa
após uma explosão acidental de um morteiro no seu próprio alojamento. Em Agosto
do mesmo ano, ele recebeu alta e se recuperou dos inúmeros fragmentos de metal
alojados em diversas partes do seu corpo. Passou a escrever no Il Popolo d’Italia (O Povo da Itália).
Alcançou a patente de sargento. É possível que nessa época Mussolini tenha
recebido financiamento do serviço secreto britânico, o MI5, com o pagamento de
100 libras semanais para divulgar artigos favoráveis à guerra, posicionando-se
contra a Alemanha.
Foto de Mussolini, durante a Primeira Guerra. |
Fasci
Italiani di Combatimento
O Fascismo
tem início verificável em 1919, quando Mussolini funda o movimento Fasci
Italiani di Combatimento, um grupo paramilitar de ideologia fascista. Com
eu enfoque social, ganhou a adesão de setores descontentes do exército
italiano, da população e de diversas figuras políticas.
Tornou-se o chefe do movimento, auto proclamado Duce.
Camisas Negras
Em 1922, Mussolini e seus aliados Bianchi, De
Vecchi, Italo Balbo e De Bono, realizam a famosa Marcha sobre Roma. O ato foi
propagandista para o movimento fascista. As milícias fascistas de combate
direto, chamadas de Camicie Nere
(Camisas Negras), começaram a atacar abertamente os socialistas e os demais
grupos opositores. Demonstrações constantes de poder, agressividade e
popularidade fizeram com que Mussolini entrasse para o governo italiano, sendo
nomeado como primeiro ministro pelo então rei Vítor Manuel III. Os fascistas
obtiveram maioria no parlamento e, de fato, tornaram-se os governantes da
Itália.
Questão Romana
O papado e o Estado romano tinham, entre si, uma
antiga briga, envolvendo a questão de neutralidade territorial e emancipação
geográfica do Vaticano. Mussolini realizou um acordo com a Igreja Católica e
garantiu-lhe o Estado do Vaticano, agora administrativamente independente da
Itália. Em 1929, para obter o apoio importante do catolicismo, assinou a
Concordata de São João Latrão, com o então Papa Pio XI. Entre outros pontos, o
acordo garantiu uma restituição financeira ao Papa pelos prejuízos decorrentes
das perdas de terras da Igreja para o Estado romano, instituiu a
obrigatoriedade do catecismo nas escolas e instituiu o catolicismo romano como
a religião oficial de Estado.
Política colonial
Mussolini intensificou a presença italiana nas
colônias e realizou campanhas, sobretudo no continente africano, para expandir o
que ele considerava como império romano. Em 1935, realizou uma campanha militar
na Etiópia, invadindo a região da Abissínia, o que resultou na perda de apoio
da Inglaterra e da França. Como resultado do conflito, mais de 500.000
africanos perderam suas vidas, enquanto as baixas italianas foram estimadas em
pouco mais de 5.000. A campanha etíope, entretanto, não surtiu efeitos
positivos para a Itália: as milícias do país empreenderam uma séria resistência
contra os italianos que esperavam uma vitória rápida e fácil. A Etiópica nunca
chegou, de fato, a sucumbir aos italianos. O então governante etíope, Haile
Selassie, foi forçado a fugir para o exílio.
Tropas italianas na Etiópia. |
Segunda Guerra
Com o afastamento em relação à Inglaterra e França,
Mussolini buscou apoio em Hitler e ambos se aproximaram. Diferente de sua
atitude anti alemã durante a Primeira Guerra, Mussolini acabou aproximando-se
política e ideologicamente do regime nazista. Em 1936, assinou um acordo
bilateral com a Alemanha e o Japão, formando assim o Pacto Tripartite, dando
origem à aliança política e militar que formaria o Eixo, como ficou conhecido.
Em 1938, ocupou a região da Albânia e apoiou Franco na Espanha durante a Guerra
Civil Espanhola. Sua mais malfadada campanha militar foi a tentativa de invasão
da Grécia, de onde suas tropas foram expulsas em pouco mais de uma semana. O
fracasso da campanha africana contra Montgomery pesou para os cofres italianos,
e, mesmo com o apoio constante de Hitler, não conseguiu recuperar as forças
armadas de suas derrotas. Quando os aliados desembarcaram na Sicília, o destino
de Mussolini já estava praticamente selado.
Soldados italianos da Segunda Guerra. |
República Social Italiana
Em 1943, foi preso em Gran Sasso, em um hotel, pelas
tropas aliadas. Hitler, como de costume, correu em socorro do aliado, e enviou
paraquedistas da SS, que com sucesso resgataram o Duce. A ação, realizada em 12
de Setembro de 1943, ficou conhecida como “Operação Carvalho”, tendo sido
comandada por Otto Skorzeny. Ao Norte da Itália, no pouco de território que não
havia sido capturado pelos aliados, Mussolini fundou a República Social
Italiana, que duraria somente até Abril de 1945.
Mussolini seria capturado e morto em 1945. |
Morte
Em 28 de Abril de 1945, já nos finais da Segunda
Guerra, Mussolini foi capturado por membros da Resistência Italiana, que o
executaram no mesmo dia, em praça pública. Mussolini, sua então companheira
Clara Petacci e seus aliados Nicola Bombacci, Alessandro Pavolini e Achille
Starace foram expostos publicamente durante vários dias, pendurados pelos pés.
Poder e mulheres
Mussolini, em sua vida privada, foi protagonista de
diversas relações com as várias mulheres e casamentos que teve. Casou-se com
Ida Dalser em 1914 e com ela teve um filho, Benito Albino Mussolini. Em 1915,
casou-se com Rachele Guidi, com quem tinha casos amorosos desde 1910, e teve
duas filhas, Edda e Anna Maria, e três filhos, Vittorio, Romano e Bruno.
Manteve casos amorosos com Margherita Sarfatti e Clara Petacci (que o
acompanharia até a sua morte). Sua primeira esposa e seu filho Albino Mussolini
foram perseguidos posteriormente, tendo seu filho sido internado em um hospício
em Milão, morrendo em 26 de Agosto de 1942, por consequência de inúmeros e
sucessivos comas induzidos. Albino morreu rejeitado pelo pai.
Precipitações
A precipitação da Itália na Segunda Guerra foi,
provavelmente, o fator crucial para o declínio do regime fascista. A Itália
ainda não possuía o nível de desenvolvimento industrial e militar necessários
para campanhas em larga escala e em diversas frentes, e a tentativa de adequar
a estratégia alemã de Blitzkrieg nas ações militares italianas não foi bem
sucedida. Por diversas vezes os alemães tiveram de intervir nas campanhas
militares mal sucedidas de Mussolini.
Legado e ponderações
O regime de Mussolini representou um refreamento na
expansão comunista pela Europa. A doutrina fascista, com propostas de forte
apelo social, mostrou-se um elemento mais popular e eficiente como alternativa
ao socialismo marxista do que as doutrinas liberais. O expansionismo militar,
entretanto, constituiu um elemento negativo do governo italiano que,
despreparado, acabou por sucumbir. A doutrina fascista de Mussolini constitui o
que se chamou de Terceira Via, um modo de governo político e uma filosofia
social dissociada dos extremos de Esquerda e Direita. A subida do fascismo foi
essencial para a independência do Vaticano e o fortalecimento do Eixo, e as
ações de Mussolini em relação aos direitos trabalhistas serviram de modelo para
várias outras legislações ao redor do mundo, como a legislação trabalhista de
Getúlio Vargas e a criação da CLT brasileira em 1º de Maio de 1943.
Últimas análises
A habilidade que Mussolini tinha para as questões
internas faltou quando se tratava de assuntos internacionais. Conseguia
conciliar os diversos setores italianos e, contra os mais extremos e
oposicionistas, usava a dissuasão repressiva. Fomentou a industrialização do
país e pavimentou o caminho dos direitos laborais, resolveu a antiga questão
católica e estabeleceu um modelo cívico e próprio de governo que, apesar de suas
falhas, conseguiu garantir significativos avanços para o povo italiano que, nos
anos iniciais de seu regime, experimentou uma prosperidade econômica. As ações
militares de Mussolini, apesar de catastróficas, não podem ser totalmente
desconsideradas, já que ele forneceu apoio essencial em tropas para campanhas
mais extensivas dos alemães, como no Norte da África ao lado de Römmel e na
invasão à União Soviética. A figura de Mussolini permanece emblemática e
instiga a admiração e o ódio, mas nunca a indiferença dos analistas políticos.
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