O Exército Republicano Irlandês, mais conhecido como IRA (Irish Republican Army), é uma organização paramilitar famosa por seus atentados terroristas. O IRA foi a peça fundamental de combate dos irlandeses por sua independência em relação à Grã-Bretanha, especialmente na Guerra Irlandesa de Independência, de 1919 a 1921. Majoritariamente ligada a atos terroristas e conflitos, a história do IRA envolve-se muito mais com questões políticas e administrativas.
O IRA
Em 27 de Outubro de
1917, uma convenção em Dublin reuniu membros do antigo Voluntários Irlandeses. Organizada pelo partido irlandês Sinn Féin, reuniu aqueles que formariam
o IRA. Estimava-se que houvesse entre 162 e 390 grupos de voluntários,
subsequentemente mobilizados para o IRA. No dia anterior, Éamon de Valera havia
sido eleito presidente do Sinn Féin,
que, junto com Cathal Brugha, reorganizaria os voluntários.
Bases de um caminho
O objetivo central do
IRA era conduzir a luta armada contra a dominação da Grã-Bretanha e garantir a
total emancipação da Irlanda. Em 1918, um governo autônomo foi preparado, tendo
como presidente De Valera, seguido por um executivo nacional com membros
eleitos.
Compromisso
Os representantes do
Sinn Féin eleitos em 1918 se comprometeram a não participar do parlamento em
Westminster, submetido à Grã-Bretanha, mas sim em formar uma organização
política independente. Essa promessa marcava bem o caráter enérgico de
independência irlandesa do movimento.
Divergência
A organização do IRA
manteve-se muito independente do partido Sinn Féin. Os membros do IRA
submetiam-se à autoridade interna do grupo, e não ao governo. Vários fatores
levaram a essa fragmentação, como diferenças ideológicas, objetivos diferentes
para a Irlanda e meios divergentes para alcançar a independência do país.
Enquanto o Sinn Féin tomava ações pelas vias políticas, o IRA defendia uma ação
mais direta e violenta.
Cartaz de recrutamento do IRA. |
Emboscada
No dia 21 de Janeiro
de 1919, liderados por Séamus Robinson, Dan Bree, Séan Treacy e Séan Hogan, os
membros da 3ª Brigada Tipperary realizaram um atentado que resultou na morte de
James McDonnell e Patrick O’Connel, membros do novo governo irregular da
Irlanda. O evento ficou conhecido como a “Emboscada
Soloheadbeg”.
Reconciliação
Um acordo foi feito
entre os representantes do governo irlandês e os líderes do IRA no dia 31 de
Janeiro de 1919. Assim, o IRA foi submetido como ferramenta do movimento
político Sinn Féin. Brugha propôs que os membros do IRA prestassem juramento ao
governo, e em 1920 o juramento foi feito.
Membros do IRA em Belfast. |
Primeira fase
Através de
guerrilhas, o IRA empreendeu uma série de ataques contra as forças reais
britânicas na Irlanda, de 1919 a 1921. Três fases principais dividiram a
campanha: a primeira fase, uma reorganização dos voluntários do IRA como um
exército de guerrilha (cerca de 100.000 homens, dos quais apenas 15.000 se
mobilizaram). Nesta fase, 400 postos militares britânicos foram queimados em
Abril de 1920.
Voluntários do IRA que serviram na guerra de independência irlandesa de 1919 a 1921. |
Segunda Fase
A segunda fase da
Guerra de Independência Irlandesa durou de Janeiro a Julho de 1920. Uma série
de ataques a postos policiais tomou conta da Irlanda: 16 foram destruídos e 29
danificados. Os britânicos declararam lei marcial em diversas partes da
Irlanda, permitindo a intervenção direta e a execução de membros do IRA sem
julgamento prévio. Os britânicos enviaram a tropa BLACK e Tans e a Auxiliary
Division para a Irlanda.
Terceira Fase
A terceira e última
fase foi de Agosto de 1920 a Julho de 1921. Os membros do IRA enfrentaram
forças britânicas ainda mais superiores. Sendo assim, evitaram combates diretos
e realizaram emboscadas. O IRA se dividiu em unidades chamadas de “Colunas
Voadoras” (Flying Columms) com cerca de 20 membros cada. As principais lutas
aconteceram em Dublin e na província de Munster. Os guerrilheiros obtiveram
numerosas vitórias sobre os britânicos.
Pressão
A partir de Julho de
1921, as ações do IRA tornaram-se cada vez mais difíceis por dois fatores:
falta de armas e munição e o número cada vez maior de tropas britânicas. O
grupo dispunha de somente 3000 rifles, a maior parte tomada dos próprios
britânicos, mas um número superior de escopetas e pistolas. Algumas metralhadoras
Thompson foram traficadas dos EUA, mas a maior parte delas (450) foi
interceptada pelas autoridades norte-americanas, e o restante chegou somente
depois do fim da guerra.
Perdas
Aproximadamente 5.000 membros do IRA
foram presos e 500 foram mortos na Guerra de Independência Irlandesa. De 15.000
homens mobilizados, restaram entre 2000 e 3000. Em 1921, a guerra foi terminada
de modo repentino.
Sábado Sangrento
A violência das tropas britânicas foi tão grande que
o próprio rei George V disse que odiava a ideia por trás das tropas atuantes na
Irlanda. Em Novembro de 1920, em Dublin, a aconteceu o Sábado Sangrento, onde
os membros do IRA mataram 40 pessoas, incluindo nove agentes britânicos. Os britânicos
abriram fogo contra uma multidão em um estádio de futebol de Croke Park,
matando 14 civis. Os membros do IRA destruíram várias propriedades de realistas
que cooperavam com os britânicos
Católicos x Protestantes
Os militantes do IRA mataram cerca de 70 civis protestantes.
Grande parte dos protestantes era historicamente leal à Coroa britânica, o que
causou a inimizade contra os membros do IRA.
Consequências
Os britânicos, apesar da superioridade militar,
encararam custos altíssimos para manter suas campanhas na Irlanda, o que tornou
suas ações insustentáveis. A guerra acirrou inimizades históricas e teve como
principal reação o caos social e a estratificação da sociedade irlandesa,
dividida inclusive por questões religiosas.
Mulheres do IRA revistam um suspeito. Na parede, os dizeres "Fora Britânicos". |
Tratado
O primeiro ministro britânico David Lloyd e os
representantes irlandeses assinaram um tratado de paz em 11 de Julho de 1921. A
maior parte dos líderes do IRA não confiou no tratado e continuou a recrutar e
treinar militantes. O tratado exigia o fim da proclamada República Irlandesa e
o retorno da dominação britânica. Essa discordância levaria, mais tarde, à
guerra civil irlandesa, onde os favoráveis ao tratado lutaram contra os
desfavoráveis. O país foi dividido em dois: Irlanda do Norte e Irlanda do Sul.
A Irlanda do Norte voltou a fazer parte do Reino Unido.
De Valera opôs-se ao tratado anglo-irlandês. |
Guerra Civil Irlandesa
A divergência logo se transformou em uma guerra
civil. Os membros do IRA favoráveis ao tratado tornaram-se no Exército Nacional
Irlandês (INA – Irish National Army). O conflito terminou em 1923 com a derrota
dos contrários ao tratado que deu origem ao Estado Irlandês Livre (um nome que
expressa pouca liberdade, já que tal governo era submetido à Grã-Bretanha). Os
grupos atuais do IRA ainda ativos dizem-se herdeiros dos antigos opositores
daquilo que consideram como um tratado de traição.
Lições
O IRA atuou como um importante grupo de pressão pela
independência da Irlanda. Entretanto, a guerra escalou para algo pior do que
irlandeses contra britânicos. Divisões no próprio IRA e entre a população
irlandesa criaram conflitos internos. O sonho de criar uma República acabou com
o tratado que deu lugar a uma divisão na nação e submeteu o governo irlandês à
Coroa britânica. Do fim destas guerras até os dias de hoje, o IRA tornou-se uma
organização tida como terrorista, tomando ações esporádicas contra os
britânicos, totalmente desligado do governo irlandês. Recentemente, ao menos parte principal do grupo declarou um fim das
ações hostis, mas a questão irlandesa ainda não foi completamente resolvida.
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