General Patton. |
"Meu caro Ike, hoje eu cuspi no rio Sena".
Talvez poucos comandantes militares norte-americanos tenham exercido um papel tão influente quanto o do general George Smith Patton Junior, um homem tão reconhecido por seu modo excêntrico, pragmático, destemido e incisivo de agir quanto por suas bem sucedidas campanhas militares. Especialmente reconhecido por seu comando em unidades motorizadas e infantarias, Patton desempenhou uma série de campanhas no front ocidental, na Europa, libertando várias áreas do controle das forças do Eixo. Observador analítico das estratégias e do modus operandi dos nazistas conduzirem suas unidades motorizadas e da estratégia de guerra rápida da Blitzkrieg, Patton conseguiu de modo inteligente adaptar algumas dessas estratégias e táticas para o seu próprio uso, o que aumentou consideravelmente o potencial das forças Aliadas.
O garoto de San Gabriel
Patton ainda jovem. |
Nascido em 11 de Novembro de 1885 na cidade de San Gabriel, no estado da Califórnia, logo entrou para a Academia Militar em West Point, onde recebeu toda a instrução necessária. Em um rápido crescimento em sua carreira, Patton logo exerce cargos de comando, liderando o 3º Exército dos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial. Durante o conflito, teria papel decisivo em importantes batalhas e operações, como a Operação Torch, Operação Overlord e o avanço aos arredores de Berlim. Patton nasceu em uma família com grande passado militar, tendo seus ancestrais lutado na Revolução, na Guerra do México e na Guerra Civil. Casou-se com Beatrice Ayer dentro do quartel em West Point. Sua primeira experiência de batalha foi no ano de 1915, sob o comando de John Pershing, contra o famoso revolucionário mexicano Pancho Villa. Com a explosão da Primeira Guerra Mundial e o começo da disseminação do uso de tanques e veículos blindados, Patton, já em 1917, tornou-se o primeiro membro e um dos patronos do Corpo de Tanques dos EUA, vencendo, no mesmo ano, a importante batalha em Cambrai, França, no que podemos considerar como a primeira grande batalha de tanques da História.Na França, treinou os primeiros 500 soldados de tanques norte-americanos na escola fundada em Bourg, e, dispondo de 345 tanques na época, exerceu papel decisivo na Operação de Meuse-Argonne, em Setembro de 1918. Patton criou um sistema de comunicação pouco convencional, mas muito eficiente, durante esta época, utilizando mensageiros a pé e também pombos correio. Durante uma dessas operações, Patton foi atingido na perna. Suas ações lhe valeram a condecoração com a Cruz de Serviço Distinto por Heroísmo (Distinguished Service Cross for Heroism). Patton foi um visionário à frente de seu tempo, prevendo o enorme uso e valor de corpos de tanques e veículos blindados nas batalhas, e defendeu, desde aquela época, o investimento pesado em unidades motorizadas nos EUA. Após a Primeira Guerra, Patton exerceu diversos cargos em bases do Hawaii e Washington D.C.; formando-se no Command and General Staff School (Escola de Comando e Equipe Geral) em 1924, e no Army War College (Colégio de Guerra do Exército) em 1932.
Eike, em 1918, durante a Primeira Guerra Mundial, à serviço, na França. |
Aprendendo com a Blitzkrieg
Quando a tática alemã da Blitzkrieg toma corpo e funcionamento na Europa, Patton reforça seus apelos junto ao Congresso norte-americano para a necessidade de formar uma força mais consistente para impacto em batalha, principalmente no que se referia às unidades blindadas. Em 1940, com a criação da Força Blindada (Armored Force), Patton foi transferido para a Segunda Divisão Blindada em Fort Benning, na Geórgia. Em 1941 foi nomeado como General em Comando. Em Dezembro de 1941 os EUA entram oficialmente no conflito, por conta especialmente do ataque sofrido em Pearl Harbor. Patton teria uma série de sucessos durante todo o teatro de operações. Defensor da prática, da iniciativa, do forte ataque e o choque contundente e, aprendendo as lições ensinadas pela Blitzkrieg, advogando em defesa da interação entre as diferentes unidades das Forças Armadas e as operações conjuntas dessas forças.
Operação Torch
Aliados avançando pelo Norte da África. |
Franklin Roosevelt, presidente dos EUA à época, juntamente com Winston Churchill, primeiro ministro britânico, decidiram abrir um novo front, realizando operações no Norte da África contra as Afrikakorps alemãs. Em Novembro de 1942, Patton liderou as missões que libertaram Marrocos, Argélia e Tunísia do controle do Eixo. Em 1943, Patton derrotou Rommel em uma batalha desempenhada em Túnis, aprisionando aproximadamente 200.000 alemães. Tanto as ações de Montgomery quanto de Patton foram decisivas para o recuo do front alemão na África e a consequente perda de posições estratégicas, especialmente pontos de fornecimento de matérias primas e combustíveis, o que enfraqueceu também o front alemão na Europa.
Operação Husky
Linha de Tanques Sherman, avançando ao longo da Tunísia. |
Patton recebeu o comando do 7º Exército durante a Operação Husky, desenvolvida num teatro de operações na Itália, libertando as cidades de Palermo e Messina, o que contribuiu decisivamente para o bem sucedido desembarque das tropas aliadas no Sul da Itália, na Sicília. As vitórias na Itália enfraqueceram as forças alemãs e retiraram de seu controle importantes cidades portuárias, o que prejudicou decisivamente o envio de suprimentos para as tropas de Rommel e suas Afrikakorps no continente africano. Desse modo, Montgomery pôde obter mais vitórias sobre os alemães.
Operação Overlord
Na foto, o general Patton em um tanque de guerra. |
Mais conhecida como Dia D, a Operação Overlord tomou forma no desembarque da Normandia, numa ação conjunta das tropas dos EUA, Canadá, Reino Unido e França. Patton defendia o uso de grandes unidades de forças motorizadas e blindadas para adentrar pelo front ocidental, liberando, assim, a Europa. Em uma estratégia que visava despistar os alemães, diversos anúncios foram emitidos dando a entender que o grosso das tropas seria conduzido por Pais-de-Calais, a Leste da Normandia. Estas informações falsas emitidas propositalmente foram conduzidas pela Operação Guarda Costas, confundindo a mobilização de tropas alemãs. Para isso, um exército fictício foi criado, recebendo o nome de FUSAG - First United States Army (Primeiro Exército dos Estados Unidos), do qual Patton seria o comandante. Com essa rede de desinformações, os alemães não fizeram as mobilizações necessárias, o que permitiu um avanço mais rápido das tropas aliadas pela Normandia. Desse modo, a corrida de Patton até o rio Sena começava, agora, a se acelerar.
Soldados norte-americanos sendo transportados em um LCVP, nas praias da Normandia, no famoso Dia D. |
Sangue nas Ardenas
Tropas norte-americanas nas Ardenas, na região de Amonines,na Bélgica. |
No dia 16 de Dezembro de 1944, Patton conduziu uma série de manobras nas Ardenas, na França. Nessa ocasião, Hitler pretendia cortar as comunicações dos Aliados
através de uma grande operação ofensiva, especialmente com o objetivo
de dominar a Antuérpia. De fato, os Aliados possuíam posições frágeis na
região, o que favoreceu a decisão de Hitler. Na fronteira entre a
Alemanha e a Bélgica, Patton realizou o comando de diversas batalhas, sendo
a principal delas aquela responsável pelo resgate de cerca de 18.000
soldados norte-americanos isolados pelos alemães na cidade de Bastogne.
Patton cruzou o rio Reno, apesar de ordens proibindo-o de fazer isto.
Tal feito foi atribuído a Montgomery, o que deixou Patton extremamente
irritado e apenas deteriorou as já péssimas relações entre ele e o
comandante britânico.
Berlim deve ser nossa
Patton observava com receio o avanço soviético vindo do Leste. Ele sabia que, após o confronto, EUA, a União Soviética seria a outra superpotência. Durante algum tempo, as tropas soviéticas a leste e ocidentais a oeste permaneceram num impasse para decidir quem seria responsável pela invasão de Berlim. Em uma decisão que visava preservar as tropas, os aliados ocidentais permitiram a invasão pelos soviéticos. A batalha sangrenta não agradava o Alto Comando, que, no campo de operações da Normandia, havia perdido um número considerável de vidas. A tarefa ensanguentada ficou, então, ao encargo dos russos. Patton, durante todo o momento, seria contrário a esta decisão, mas suas opiniões não foram ouvidas.
Pós Guerra
Ao fim da Segunda Guerra Mundial, Patton trabalhou como escritor. Ele escreveu um diário de guerra compilado por sua esposa Beatrice, intitulado "War as I knew It"(A Guerra como eu a Vi), tendo sido publicado em 1974. Patton deixou um enorme legado aos norte-americanos, podendo ser considerado como o patrono das unidades motorizadas e blindadas - mais especificamente, os corpos de tanques de guerra - dos EUA, bem como as primeiras escolas de formação de tripulações para tanques de guerra. Exímio estrategista, foi o grande responsável pelo avanço dos Aliados no front ocidental, fazendo as forças alemãs recuarem decisivamente. Não apenas "copiou" estratégias alemãs como a Blitzkrieg, adaptando-as às suas tropas, como também criou táticas próprias e inovadoras. Patton prezava pela vida de seus comandados e seu modo pragmático e incisivo fazia com que ele se tornasse cada vez mais um comandante respeitado e amado por seus subordinados.
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