Howard Carter, o arqueólogo responsável pela descoberta do sarcófago de Tutancâmon. |
Poucas civilizações no mundo conseguem nos encantar de um modo tão forte como a civilização egípcia. Prova cabal de que as grandes culturas não se resumem apenas ao continente Europeu, o milenarismo egípcio continua nos fascinando de modo irreversível. Os tesouros, as tumbas, os sarcófagos, os labirintos no interior das pirâmides, os templos imensos e a grande esfinge continuam como locais muito preciosos para o trabalho arqueológico. Duas figuras serão o tema principal deste texto: o mais jovem faraó egípcio a chegar ao poder, Tutancâmon, e o grande arqueólogo responsável pelo descobrimento da múmia e dos tesouros do faraó, Howard Carter.
O Jovem Faraó
Com apenas oito anos de idade, Tutancâmon, filho de Aquenáton, sobe ao trono do Egito como o senhor soberano de todas as terras do Nilo, o Hórus vivo e encarnado, a divindade manifestada em um corpo humano. Pronto para ser idolatrado por todos os súditos das terras férteis e inférteis, ele se casa com a própria irmã, Anchesenamon, com a idade de oito anos, seguindo uma prática comum entre os faraós. Tutancâmon foi filho e genro de seu próprio pai. Aos nove anos, é consagrado como Faraó de todo o reino egípcio e dos povos por conquistar. O pequeno soberano restaura então os antigos privilégios do clero e os cultos tradicionais aos deuses (que haviam sido abolidos por seu pai, o responsável pela criação da tentativa religiosa do monoteísmo, instituindo o culto ao deus único Aton, o Sol) dedicando atenção especial ao deus Amon, o "rei dos deuses". Por conta da pouca idade, entretanto, o soberano tinha o auxílio de dois homens em especial: Aye e Horemheb, os mesmos auxiliares de seu pai. Eram eles os responsáveis pelas maiores decisões do reino. O nome Tutancâmon significa "imagem viva do deus Amon".
Revivendo as divindades
O período no qual o jovem faraó governou era particularmente caótico: muitos dos cultos, templos e santuários foram praticamente abandonados. As expedições militares não obtinham os sucessos desejados, e a economia não estava em sua melhor fase. Como toda a cultura egípcia girava em torno dos deuses, a explicação mais recorrente na época foi a "ira dos deuses", que, diante de tal abandono, descuido e profanação, agora estariam punindo os egípcios com toda a sorte de pragas e castigos. Tutancâmon restituiu os antigos locais de culto, ordenou a reparação dos templos antigos e a construção de novos locais de adoração e monumentos em honra aos deuses. Além disso, reprimiu as demais práticas religiosas.
Aos 19 anos de idade, por volta do ano de 1327 a.C., Tutancâmon faleceu. Entre as prováveis causas de sua morte, encontramos a defesa de historiadores como Douglas Derry, que definiu a causa do falecimento como tuberculose; já R.G Harrison, ao encontrar uma perfuração no lado esquerdo do crânio da múmia do faraó, constatou a causa da morte como decorrência de uma hemorragia, em um golpe causado por um provável assassinato ou acidente. Entretanto, essa hipótese foi abandonada em 2006, quando Ashraf Selim diagnosticou que a perfuração no crânio foi causada por um erro no processo de embalsamamento da múmia do faraó. Em 2010, a causa mais provável é tida como decorrência de infecção pela malária. Outras suposições ainda persistem, como o possível assassinato de Tutancâmon por um de seus altos conselheiros, ou até mesmo um acidente, onde ele teria sido atropelado por uma carruagem. A causa exata, contudo, permanece incerta. O jovem faraó foi sucedido por Aye, que se casou com a viúva do pequeno governante.
A descoberta do Sarcófago
Howard Carter e Lorde Carnarvon. |
Muitos arqueólogos percorreram a imensidão dos desertos procurando pela tumba perdida do menino faraó. Mas apenas um deles atingiu o objetivo, e seu nome era Howard Carter. Nascido em Kensington , em 9 de Maio de 1874, foi um prodigioso egiptólogo e arqueologista britânico, mundialmente famoso como descobridor do túmulo de Tutancâmon. No ano de 1907, ele foi contratado pelo Lorde Carnarvon para assumir algumas pesquisas arqueológicas no Vale dos Reis, no Egito. Seus trabalhos duraram até 1914, quando, por conta da Primeira Guerra Mundial, foram interrompidos. Em 1917, retoma seus trabalhos, mas recebe, em 1922, o aviso de Lorde Carnarvon de que suas buscas seriam financiadas somente por mais um ano. Agora, Howard corria contra o relógio e contra o Sol. No dia 4 de Novembro do mesmo ano, Howard descobre degraus que levavam a uma tumba. Avisou imediatamente ao Lorde Carnarvon, que foi o mais depressa possível para o local da escavação, acompanhado de sua filha. No dia 26 de novembro de 1922, Howard abre uma brecha pela qual é possível avistar os tesouros contidos na tumba. O Lorde Carnarvon lhe pergunta se era possível ver algo por aquele buraco, e Howard lhe responde de modo emblemático: "Sim, é possível ver coisas maravilhosas!". Durante todos os meses seguintes, Howard e sua equipe se dedicaram a fazer o inventário de todos os tesouros, artefatos e descobertas presentes na tumba do faraó, supervisionados pelas autoridades egípcias. Pierre Lacau, então diretor geral do Departamento de Antiguidades do Egito, fiscalizou pessoalmente a equipe de Howard. Em 16 de fevereiro de 1923 Carter finalmente consegue abrir a porta selada, e, após adentrar nela, descobre a sala da múmia de Tutancâmon. A tumba descoberta por Howard era a mais bem preservada de todas já reveladas até então, e todos os achados possuíam um imenso valor arqueológico e histórico. O evento foi amplamente coberto pela imprensa, e Howard Carter se tornou uma verdadeira celebridade. Os trabalhos de catalogação dos objetos duraram até o ano de 1932.
Consequências da descoberta
Howard Carter inspeciona a tumba de Tutankamon, com a múmia do faraó em seu interior. |
O excelente estado de conservação não só da múmia de Tutancâmon, como também dos inúmeros objetos encontrados na câmara, permitiu que muito da cultura egípcia fosse descoberto, bem como que os conhecimentos anteriores fossem aprimorados. No local, haviam inúmeras armas, vasos, móveis, roupas, objetos decorativos e entalhes, bem como hieróglifos (sinais alfabéticos do Egito), que nos permitiram um maior conhecimento acerca da cultura e da sociedade egípcia. Muito do que sabemos hoje sobre este povo é resultado das descobertas de Howard e sua equipe. Se a tumba de Tutancâmon não tivesse sido encontrada, certamente nossos conhecimentos sobre o Egito Antigo seriam muito menores. As contribuições dos trabalhos de Howard para a História foram extremamente significativas, e talvez seja impossível mensurar sua importância.
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