Georgy Zhukov, ao centro (com um terno acinzentado), ao lado de Bernard Montgomery. |
A Batalha de Berlim pode ser considerada o ápice da Segunda Guerra Mundial. A união entre os Aliados foi decisiva para a derrota do Eixo. Entretanto, em se tratando da derrota definitiva dos nazistas, podemos creditar especialmente os esforços soviéticos. Foram eles que lutaram essa sangrenta e encarniçada batalha final, e o avanço vermelho foi conduzido especialmente por um homem: Georgy Zhukov. Este general desempenharia, de Moscou a Berlim, um papel essencialmente decisivo, tanto para as primeiras derrotas dos nazistas quanto para as últimas vitórias soviéticas na guerra.
O Senhor de Moscou
Os mesmos soldados que se foram voltariam vitoriosos. Na foto, soldados regressam aos seus lares após a guerra. |
Nascido em 1896, Georgy Konstantinovich Zhukov serviu no Exército Imperial Russo durante a Primeira Guerra Mundial. Após a Revolução Bolchevique de 1917, ele passou a integrar o Exército Vermelho, atuando como comandante de cavalaria durante a Guerra Civil Russa contra as tropas estrangeiras e os colaboracionistas reacionários. No breve período de paz, ele estudou o uso de veículos armados em combates, o que depois se mostraria muito útil, especialmente na batalha de tanques de Kursk (a maior batalha de tanques de guerra da História). Em 1940, ele é apontado para um alto cargo por Stalin. A Operação Barbarossa mostrou a fragilidade do Exército Vermelho: os nazistas invadiram a União Soviética, desmobilizaram rapidamente as tropas de fronteira e destruíram grande parte da aviação vermelha ainda em solo; invadiram Stalingrado, cercaram Leningrado e chegaram até os subúrbios de Moscou. Dessa forma, a primeira grande missão de Zhukov foi proteger a capital da Rússia na grande Batalha de Moscou. Venceu a batalha, assegurou a proteção de Moscou (que não seria mais atacada até o fim da guerra); forçou a rendição do marechal de campo alemão Von Paulus em Stalingrado e, depois, liberou Leningrado. Ganhou também a decisiva Batalha de Kursk, mobilizando um enorme número de tanques T-34 e causando sérias derrotas às forças Panzer alemãs, que não conseguiriam se recuperar.
Sobrevivendo aos Expurgos
Joseph
Stalin, dirigente supremo da União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas, era um homem extremamente megalomaníaco, ciumento e
possessivo. Para ele, a direção da união de repúblicas significava um
prestígio pessoal. Os famosos "Expurgos" de Stalin vitimaram grande
parte dos mais hábeis e experientes generais, soldados, dirigentes,
cientistas, pensadores e estrategistas da URSS. O Grande Expurgo de Stalin, iniciado em 1933, vitimou 70% dos membros do Comitê Central,
isso sem contar a morte em outros escalões do governo, e entre os
civis. Essa chacina de grandes comandantes militares experientes
prejudicaria enormemente a URSS durante a invasão alemã. Georgy, por
sorte ou por graça divina, não é uma destas vítimas: permanece em seu
cargo e, a despeito da mania de Stalin eliminar todos aqueles que
galgassem maior consideração popular, continuou vivo mesmo durante suas
maiores vitórias e conquistas. Provavelmente, sem a execução de tantos militares experientes (grande parte deles com experiência desde o serviço no Exército Imperial), muitos outros brilhantes generais teriam desempenhado operações tão ou mais brilhantes quanto as de Zhukov.
A Marcha Vermelha
Soldados russos na Batalha de Kursk, em um tanque T-34. |
No coração do Eixo
Soldados russos colocam a bandeira soviética no topo do Reichstag. |
O Exército Vermelho logo invade a Alemanha e se posiciona aos arredores de Berlim. Um impasse toma cena: os ocidentais seriam os responsáveis pela invasão de Berlim ou os soviéticos fariam o serviço? Patton, um dos mais geniosos líderes militares dos EUA, defendia veementemente que os ocidentais deveriam fazer o trabalho. Antecipando o futuro, ele já previa que a tomada da capital pelos soviéticos significaria ceder ainda mais território e poder a Stalin e seus desejos megalomaníacos, além de prejudicar as potências ocidentais. Entretanto, a voz de Patton não ecoou, e os ocidentais decidiram que a tarefa de varrer Berlim deveria ser atribuída aos soviéticos. As baixas dos Aliados foram muito fortes, especialmente no teatro de operações da Normandia. Os principais dirigentes ocidentais sabiam que a invasão de Berlim custaria muitas vidas, e, no grosso modo, haviam mais almas soviéticas prontas para morrer do que ocidentais. Os pesados custos humanos e materiais, então, seriam pagos pelos soviéticos. A decisão de não prosseguir rumo a Berlim foi tomada principalmente em bases de uma política de poupar vidas. O Exército Vermelho invade então a capital alemã, e, com pesadas baixas, inúmeras lutas encarniçadas e um avanço que ia de prédio em prédio, de esquina a esquina e de rua a rua, a bandeira socialista tremula no topo do Reichstag, após uma batalha que durou de Abril de 1945 até o início de Maio de 1945. O dia 9 de Maio, dia da vitória contra o Eixo, seria comemorado anualmente na Parada da Vitória, até os dias atuais, em Moscou, em frente ao Kremlin.
A Batalha de Berlim foi sangrenta: na foto, soldados soviéticos utilizando artilharia. Os escombros formavam verdadeiras fortalezas para as obstinadas tropas alemãs. |
Como resultado da batalha, 458.080 alemães foram mortos ou feridos, 479.298 foram feitos prisioneiros; do lado soviético, 82.000 soldados morreram, 113.000 ficaram feridos ou desaparecidos, além das perdas materiais (1997 veículos, 917 aviões e 2.108 peças de artilharia). O Alto Comando alemão rende-se oficialmente em 8 de Maio de 1945, mas algumas forças alemãs continuam combatendo durante alguns dias após a rendição.
Pós-Guerra
Zhukov, montado em seu cavalo, desfila na Parada da Vitória de 1945, em Moscou. |
Após a Segunda Guerra, Zhukov torna-se vítima não de um expurgo, mas dos ciúmes de Stalin. O dirigente supremo da União Soviética não poderia tolerar um homem tão brilhante e em rápido crescimento político e profissional. Zhukov recebeu o prestígio merecido por suas ações, e essa foi a causa de sua perseguição. No ano de 1946, Zkukov foi removido de seu cargo e transferido para um posto em uma região longínqua, onde permaneceu estagnado. Em 1953, com a morte de Stalin, Zhukov voltou a receber os méritos merecidos por suas contribuições. Em 1955, ele foi apontado como primeiro deputado do Ministério da Defesa; em 1957, foi promovido ao Comitê Executivo do Partido Comunista. Entretanto, após ser acusado de privilegiar os militares em detrimento do Partido, ele foi demitido de suas duas posições. De 1965 a 1968, ele escreveu artigos para periódicos russos, os quais eram frequentemente censurados pelo governo. O homem que dirigou o exército russo para a vitória levou o resto de seus dias em um tranquilo e voluntário retiro. Aos 78 anos, ele morre no ano de 1974.
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