Pilotos de regimento especial aéreo kamikaze. Provavelmente, todos nesta foto morreram sacrificando suas vidas em ataques suicidas. |
Quando um ideal é suficientemente forte para que alguém dê sua própria vida, algo místico se envolve naquilo que, aparentemente, nos é simples e até mesmo superficial. Durante a Segunda Guerra Mundial, um grupo de aviadores representou o terror dos marinheiros no Pacífico, causando um trauma especialmente no ataque imortalizado de Pearl Harbor. Estes aviadores que sacrificavam a própria vida em nome da vitória final e da guerra total eram os famosos kamikazes.
Herança Samurai
Soldados japoneses de infantaria. Note as katanas, espadas típicas dos samurais. |
A filosofia que permeava o ideário das tropas nipônicas sofreu fortes influências da própria cultura milenar japonesa. O ideal eterno de guerreiro, a perfeição da figura do combatente, residia na imagem dos samurais imortais, tão antigos quanto o próprio Japão. O esforço de guerra e o militarismo imperialista dos japoneses recebeu o nome especial de Banzai, que, em uma tradução mais aproximada para a nossa língua, significa algo como "mil anos!" (uma saudação ao imperador, desejando-lhe longa vida). Todo o treinamento dos soldados japoneses envolvia todo um misticismo milenar e um senso de dever para com a própria história do país e do povo da terra do sol nascente. A katana, e mesmo as baionetas dispostas nas pontas dos rifles destes bravos guerreiros, muitas vezes desafiava abertamente metralhadoras e fuzis. Dessa forma, a guerra suicida nipônica não foi apenas nos céus: foi também presente em terra.
O Vento Divino
Uma fotografia impressionante do ataque à Pearl Harbor, a operação mais mortífera empenhada contra os EUAAté o momento, os EUA não haviam se envolvido diretamente na guerra. A frota norte-americana no Pacífico era considerável, incluindo uma força de aviação para se levar à sério. Motivados pelo apoio norte-americano ao embargo de petróleo ao seu país, os japoneses realizaram uma ousada, inesperada e aterrorizante operação que marcaria, para sempre, a memória das forças americanas. A operação aeronaval, conduzida por Chuichi Nagumo e já ambicionada por Osami Nagamo, chefe de Estado Maior da Marinha Imperial Japonesa, foi levada à cabo por Isoroku Yamamoto, que, inicialmente, desejava a via pacífica e diplomática para a não agressão entre Japão e EUA. Entretanto, Isoroku compreendeu que a ala militarista, desejosa de iniciar um confronto com os americanos, venceria fatalmente. Então, para evitar uma guerra prolongada (onde os EUA se beneficiariam de sua indústria expandida), Isoroku planejou um ataque decisivo e único contra o poderio marítimo norte-americano na região, que, segundo seus planos, obrigaria uma rendição rápida dos inimigos. O ataque a Pearl Harbor acontece, então, no dia 7 de Dezembro de 1941. 21 navios norte americanos foram avariados ou destruídos, 347 aviões foram destroçados (a maioria deles, ainda no chão), 2.403 soldados norte-americanos foram mortos e 1178 foram feridos. As perdas japonesas foram muito menores: 55 pilotos mortos (grande parte deles em colisões propositais contra os navios inimigos), 5 mini submarinos inutilizados, 29 aviões abatidos, 1 marinheiro capturado e 9 mortos. A operação foi um sucesso em sua execução, mas um fracasso em seu propósito: os EUA se lançam diretamente na guerra e os combates do Pacífico seriam os mais encarniçados e violentos e uma das mais prolongadas séries de conflitos, culminando com o lançamento da primeira bomba atômica nas cidades de Hiroshima e Nagasaki, que levaria o Japão a assinar uma rendição humilhante.Os novos samurais Os pilotos kamikazes representaram a devoção e o fanatismo de um povo reunido em torno de um objetivo em comum. Contrariando o pensamento convencional, os ataques suicidas não eram uma prática convencional da aviação japonesa, mas sim, um recurso de execução emergencial. Para o ataque a Pearl Harbor ser bem sucedido, os alvos deveriam ser atingidos com a máxima precisão e rapidez. A maioria dos caças eram bombardeiros equipados com torpedos ar-água, de grande poder de dano contra embarcações. Entretanto, era necessária uma aproximação perigosa com os alvos antes de lançar acertadamente tais torpedos, o que tornava os aviões mais vulneráveis à artilharia antiaérea. Os ataques suicidas, com o impacto do avião contra os alvos, representavam um modo mais eficaz e assegurado de danificar os objetivos. Voando rasteiro e realizando manobras evasivas, os pilotos se tornavam alvos mais difíceis de serem derrubados. Os ataques suicidas se intensificaram durante os atos finais da guerra no Pacífico, também com práticas de infantaria, onde a rendição jamais era uma opção: grupos de soldados corriam de peito aberto contra a artilharia inimiga, apenas com suas baionetas quando a munição acabava; outros soldados detonavam granadas ao serem capturados. Essas medidas fizeram com que os soldados norte-americanos intensificassem sua agressividade contra os japoneses, preferencialmente matando mesmo aqueles que se rendiam. Inspirados pelas ondas que destruíram os navios mongóis que tentaram invadir o Japão, os guerreiros suicidas, chamados de kamikazes ("vento divino", em uma tradução mais aproximada) representaram a coragem, o ardor, o fanatismo e o desespero da máquina de guerra japonesa que, confiante de sua vitória, decidiu lutar até a morte contra um inimigo gigantesco adormecido, desperto pela fúria que se bateu contra as praias havaianas de Pearl Harbor. A nós, ocidentais, o esforço suicida japonês representa um mero fanatismo, uma atitude exagerada de sacrificar a própria vida em nome de uma "batalha perdida". Mas devemos nos lembrar do ritual que os próprios samurais realizavam diante de uma derrota iminente ou um erro cometido, o seppuku, um ritual de suicídio que simbolizava um gesto de honra. Os kamikazes deram uma roupagem nova ao seppuku, onde, em nome da dignidade, era preferível perder a própria vida do que sofrer a humilhação de uma derrota. A rendição forçada do Japão não apaga, entretanto, os inúmeros avanços e conquistas deste país asiático que mostrou uma oposição forte às "invencíveis" potências ocidentais.
0 comentários