| Pilotos de regimento especial aéreo kamikaze. Provavelmente, todos nesta foto morreram sacrificando suas vidas em ataques suicidas. |
Quando um ideal é suficientemente forte para que alguém dê sua própria vida, algo místico se envolve naquilo que, aparentemente, nos é simples e até mesmo superficial. Durante a Segunda Guerra Mundial, um grupo de aviadores representou o terror dos marinheiros no Pacífico, causando um trauma especialmente no ataque imortalizado de Pearl Harbor. Estes aviadores que sacrificavam a própria vida em nome da vitória final e da guerra total eram os famosos kamikazes.
Herança Samurai
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| Soldados japoneses de infantaria. Note as katanas, espadas típicas dos samurais. |
A filosofia que permeava o ideário das tropas nipônicas sofreu fortes influências da própria cultura milenar japonesa. O ideal eterno de guerreiro, a perfeição da figura do combatente, residia na imagem dos samurais imortais, tão antigos quanto o próprio Japão. O esforço de guerra e o militarismo imperialista dos japoneses recebeu o nome especial de Banzai, que, em uma tradução mais aproximada para a nossa língua, significa algo como "mil anos!" (uma saudação ao imperador, desejando-lhe longa vida). Todo o treinamento dos soldados japoneses envolvia todo um misticismo milenar e um senso de dever para com a própria história do país e do povo da terra do sol nascente. A katana, e mesmo as baionetas dispostas nas pontas dos rifles destes bravos guerreiros, muitas vezes desafiava abertamente metralhadoras e fuzis. Dessa forma, a guerra suicida nipônica não foi apenas nos céus: foi também presente em terra.
O Vento Divino
Os pilotos kamikazes representaram a devoção e o fanatismo de um povo reunido em torno de um objetivo em comum. Contrariando o pensamento convencional, os ataques suicidas não eram uma prática convencional da aviação japonesa, mas sim, um recurso de execução emergencial. Para o ataque a Pearl Harbor ser bem sucedido, os alvos deveriam ser atingidos com a máxima precisão e rapidez. A maioria dos caças eram bombardeiros equipados com torpedos ar-água, de grande poder de dano contra embarcações. Entretanto, era necessária uma aproximação perigosa com os alvos antes de lançar acertadamente tais torpedos, o que tornava os aviões mais vulneráveis à artilharia antiaérea. Os ataques suicidas, com o impacto do avião contra os alvos, representavam um modo mais eficaz e assegurado de danificar os objetivos. Voando rasteiro e realizando manobras evasivas, os pilotos se tornavam alvos mais difíceis de serem derrubados. Os ataques suicidas se intensificaram durante os atos finais da guerra no Pacífico, também com práticas de infantaria, onde a rendição jamais era uma opção: grupos de soldados corriam de peito aberto contra a artilharia inimiga, apenas com suas baionetas quando a munição acabava; outros soldados detonavam granadas ao serem capturados. Essas medidas fizeram com que os soldados norte-americanos intensificassem sua agressividade contra os japoneses, preferencialmente matando mesmo aqueles que se rendiam. Inspirados pelas ondas que destruíram os navios mongóis que tentaram invadir o Japão, os guerreiros suicidas, chamados de kamikazes ("vento divino", em uma tradução mais aproximada) representaram a coragem, o ardor, o fanatismo e o desespero da máquina de guerra japonesa que, confiante de sua vitória, decidiu lutar até a morte contra um inimigo gigantesco adormecido, desperto pela fúria que se bateu contra as praias havaianas de Pearl Harbor. A nós, ocidentais, o esforço suicida japonês representa um mero fanatismo, uma atitude exagerada de sacrificar a própria vida em nome de uma "batalha perdida". Mas devemos nos lembrar do ritual que os próprios samurais realizavam diante de uma derrota iminente ou um erro cometido, o seppuku, um ritual de suicídio que simbolizava um gesto de honra. Os kamikazes deram uma roupagem nova ao seppuku, onde, em nome da dignidade, era preferível perder a própria vida do que sofrer a humilhação de uma derrota. A rendição forçada do Japão não apaga, entretanto, os inúmeros avanços e conquistas deste país asiático que mostrou uma oposição forte às "invencíveis" potências ocidentais.


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