"A nação que perde sua memória deixa de ser uma nação, converte-se em uma mera coleção de pessoas que, de maneira temporária, celebram o território" - Józef Piłsudski |
A Rússia aprenderia a respeitar e temer o pequeno país que conhecemos pelo nome de Polônia. As antigas rivalidades entre o Império Russo e a diminuta nação seriam ressuscitadas pelos Bolcheviques que, apesar de em suas palavras condenarem o imperialismo czarista, o reproduziram ao seu modo. Um homem seria o principal responsável pelo freio ao impulso da fome soviética, e este homem foi Józef Piłsudski.
Sua vida e suas origens
Nascido em 5 de Dezembro de 1867 em Żułów, próximo a Wilno, Józef veio de uma rica família de agricultores, que preservavam as tradições polonesas e o espírito patriótico. Foi neste ambiente e nesse meio espiritual que Józef adquiriu, desde cedo, o seu senso cívico e nacionalista. De seu pai, também chamado Józef, ele herdou um espírito revolucionário. Seu pai havia participado da revolta de Janeiro de 1863, quando o povo polonês tentou realizar a independência do país repartido pela Rússia, Prússia e Áustria. Józef terminou os estudos escolares em 1885, e entrou para a Universidade de Kharkov para estudar medicina. Entretanto, acabou se envolvendo em um movimento socialista revolucionário chamado "Narodnaya Vola". Ele foi preso por participar em manifestações estudantis. Após a saída da prisão, tentou ingressar na Universidade de Dorpat, na Estônia, mas foi rejeitado, pois as autoridades do local sabiam de seus envolvimentos ideológicos e revolucionários. Em 22 de Março de 1887, ele foi novamente preso por seu envolvimento com os socialistas, e acusado de conspiração contra o czar russo Alexandre II. Ele foi detido por cinco anos na Sibéria.
Atividades estudantis e políticas
A nação polonesa havia sido repartida entre três grandes potências, a Áustria, a Prússia e a Rússia, entre 1772 a 1795. Józef seria um dos principais agentes no renascimento e na reconstrução do país.Em 1893, o Partido Socialista Polonês (PSP) foi estabelecido em Varsóvia. Um ano antes, Józef havia retornado de sua prisão na Sibéria, e em 1884 tornou-se um membro da central de trabalhadores, trabalhando como editor chefe da revista "Robotnik", publicada pelo PSP. Em 1890, como um dos líderes do partido, foi preso pelas autoridades russas mais uma vez, detido em Varsóvia. Em 1891, foi transferido para o hospital em São Petersburgo, graças à sua simulação, fingindo estar doente. Ele conseguiu escapar com a ajuda de Władysław Mazurkiewicz, um dos médicos do hospital. Então, retorna à Galícia (a zona austríaca da Polônia repartida), onde ele continuou em suas atividades políticas. Em 1904, ele viajou ao Japão, aproveitando a guerra entre os japoneses e os russos. Lá, ele negociou com o governante Mikada a criação de uma legião polonesa auxiliada pelo exército japonês, para combater os russos. Entretanto, a única ajuda do Japão foi a aquisição de armas para o PSP. Apesar de os esforços do movimento serem suprimidos pela polícia, Józef não desistiu jamais de seus planos e persistiu na criação de uma força revolucionária polonesa. Em 1910, duas organizações paramilitares foram criadas na zona austríaca, uma em Lwów e outra em Cracow. Em 1912, ele se tornou comandante-em-chefe de uma dessas legiões. Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, ele comandou um grupo de unidades bem treinadas e invadiu a zona russa da Polônia repartida, tomando parte do território de fronteira evacuado pelos russos. Depois, fez uma aliança com os austríacos, estabelecendo legiões polonesas. Toma, então, o comando da Primeira Brigada. em 1917, o mesmo ano da Revolução Socialista na Rússia, ele resignou ao comando e se tornou membro do conselho provisório da Polônia, colaborando para a criação de um governo nacional em Varsóvia. Entretanto, mais uma vez foi preso, até o ano de 1918, na cidade de Magdeburg, na parte prussiana da Polônia repartida. Com a derrota da Alemanha na Primeira Guerra, ele foi solto e retornou a Varsóvia, tomando o comando supremo das forças armadas polonesas. Sua missão agora era criar um governo independente e um país autônomo.
Repelindo os Bolcheviques
Soldados poloneses em Miłosna , perto de Varsóvia, em Agosto de 1920. |
Em 14 de Novembro de 1918, ele começou a supervisionar a reconstrução política e territorial do país, e no dia 22 de Novembro do mesmo ano, foi promovido a líder provisório de Estado. Manteve-se no posto até 9 de Dezembro de 1922, quando Gabriel Narutowicz foi eleito o primeiro presidente da República da Polônia. De 1919 a 1921, ele repeliu os russos Bolcheviques no Leste, sendo promovido a primeiro marechal da Polônia. Em 1923, ele se afastou da política, após o assassinato do presidente Gabriel por um fanático de extrema direita chamado Eligiusz Niewiadomski, apenas uma semana depois de sua eleição. Na ocasião, Józef se recusou a trabalhar com o primeiro ministro Wincenty Witos, o qual ele acreditava ser responsável pelo incidente. Então, ele viveu durante algum tempo em seu retiro, na cidade de Sulejówek.
O retorno
Em primeiro plano, o marechal Józef Piłsudski, durante sua tomada do poder em 1926. |
A situação no país o forçou a retornar para a política, por conta dos protestos populares e a grande insatisfação presente, além do desemprego e da crise econômica. Józef exigiu então a resignação do gabinete governamental de Witos. Em 12 de Maio de 1926 ele entrou em Varsóvia, a capital, e após três dias de guerras civis, ele forçou a renúncia presidencial. Contudo, ele não aceitou o cargo de presidente, pois os poderes lhe seriam limitados. Ao invés disso, acumulou os cargos do ministério militar, do conselho de guerra e inspetor geral das forças armadas. Acumulou também o cargo de primeiro ministro, de 1926 a 1928, e depois, até 1930. Isso significou o fim do governo parlamentarista na Polônia e o início do regime ditatorial. Através de sua popularidade e de sua brilhante oratória, Józef manteve seus poderes autoritários, que não podiam ser combatidos por mais ninguém. Na política estrangeira, ele manteve boas relações com a URSS, apesar da guerra anterior contra a tentativa de invasão soviética, assinando um tratado de não agressão em 1932. Em 1934, assinou um tratado de paz também com a Alemanha. Esses tratados serviram para permitir a consolidação da nova República polonesa, bem como os limites territoriais do país.
Morte e legado
Em 12 de Maio de 1935, o marechal Józef Piłsudski morre inesperadamente, pegando o país de surpresa. Até o fim de sua vida, ele manteve sua grave doença (um câncer no fígado) em segredo. O dia de seu funeral tornou-se uma data nacional criada em sua homenagem. Seu corpo foi enterrado na Cripta de São Leonardo na Catedral de Wawel, próximo às tumbas de reis e rainhas e das mais distintas personalidades polonesas. Seguindo seu desejo, retiraram seu coração e o colocaram em uma urna de prata, que foi posta na sepultura de sua mãe, no cemitério de Rossa, na cidade de Wilno. Józef foi um dos mais proeminentes políticos poloneses, um dos homens responsáveis por tornar um território esfacelado e dominado em uma nação unificada, forte e consolidada. Não apenas conseguiu vencer os invasores, como assinou tratados de paz com ambos. As forças polonesas, inferiores em números e equipamentos, conseguiram com sucesso repelir as tropas soviéticas dos bolcheviques, em proporções e condições muito superiores às de seus exércitos. Józef protegeu a Polônia de Leste a Oeste e de Norte a Sul, e através do golpe de Estado promovido por ele, estabilizou a economia, acalmou os ânimos, reuniu setores divididos e consolidou o poder político do país. É muito improvável imaginar uma Polônia reunificada e reestruturada sem a figura de Piłsudski. Ele foi um autêntico político socialista com espírito nacionalista, um patriota, um revolucionário que, com o gosto pelo poder, tornou-se um dos maiores ditadores, estadistas e totalitários da Europa.
0 comentários