A terrível explosão nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki causou um horrível espetáculo que aterrorizou a população mundial. A mais terrível arma até então, a famosa bomba atômica, em poucos segundos dizimou a vida de um número surpreendente de seres humanos e arrasou duas grandes metrópoles. Entretanto, toda uma equipe e todo um longo trabalho foi necessário até que esta terrível arma de destruição em massa estivesse pronta para destroçar a terra do sol nascente.
O Projeto
Não foi nenhum pioneirismo norte-americano o projeto para a construção de uma arma explosiva de destruição em massa. Os alemães já se esforçavam no intento de conquistar a primeira arma atômica. Foi justamente por esse alarmismo que o governo norte-americano intensificou os projetos de estudos e pesquisas nesse campo, reunindo todo um conjunto de físicos e cientistas em torno da construção da primeira bomba. Iniciado em 1939 e levado até o ano de 1945, o projeto contou com um investimento total de 2 bilhões de dólares, empregando um número superior a 130.000 pessoas, desde as bases do projeto até a equipe de cientistas e físicos. Não foi um mérito totalmente norte-americano, já que houve uma união entre Reino Unido, Canadá e Estados Unidos em torno do projeto, que, mesmo assim, foi majoritariamente coordenado pelos americanos. O objetivo era um só: construir o primeiro armamento atômico. E, preferencialmente, antes dos alemães.
A Equipe
Oppenheimer, físico chefe do corpo científico. |
A Bomba
Localidades com instalações e andamentos do Projeto Manhattan. (Fonte: Wikipédia). |
As pesquisas seguiram dois caminhos distintos. Uma vertente, utilizando urânio 235, um isótopo quimicamente idêntico ao isótopo mais comum, o urânio 238. Nessa modalidade, três meios de enriquecimento foram utilizados: o eletromagnético, o gasoso e o térmico. A maior parte dos estudos foi realizado em Oak Ridge, no estado do Tennessee. A outra vertente previa uma bomba baseada em plutônio.O principal laboratório das pesquisas era localizado na cidade de Los Álamos, no Estado do Novo México. Entretanto, o principal complexo de instalações do projeto foi concentrado no Distrito Manhattan, um local específico para o projeto, criado pela iniciativa do major general Eugene Reybold e do coronel James C. Marshall. Um gabinete específico foi criado para facilitar as conexões com o governo federal, com sede em Washington D.C., o que facilitava os financiamentos ao projeto. Os custos para apenas uma fábrica do complexo eram estimados em US$128 milhões.
A primeira bomba nuclear Fat Man, pouco antes de ser usada no primeiro teste, em instalações no Novo México. |
Membros da direção do projeto Manhattan, em visita ao local de impacto da bomba do teste Trinity. |
A arma de plutônio acabou por ser a arma preferida para a condução dos testes. O primeiro teste efetivo da arma, chamado de Trinity, ocorreu em 16 de Julho de 1945, às 05:30 da manhã, com a explosão de um artefato com uma força de cerca de 20 quilotons de TNT, em uma região desértica, onde deixou uma cratera de 76 metros de largura, além da radiação no local. Como observadores, estavam presentes os cientistas Bush Chadwick, Conant, Groves, Farrell, Fermi e Lawrence, além do físico chefe, Oppenheimer, e Tolman. A explosão foi sentida em um raio de 160km de distância e a nuvem da explosão atingiu a altura de 12 mil e cem metros. Esse teste ocorreu em Alamogordo Field. A arma foi um sucesso, e agora, seria questão de tempo até que fosse utilizada efetivamente.
O uso da bomba
Modelo Fat Man utilizado nas explosões de Hiroshima e Nagasaki. |
Utilizando aviões bombardeiros modelo B-29, os norte americanos utilizaram duas bombas nucleares contra as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki. O alvo inicial não incluía a cidade de Nagasaki, mas sim, a cidade de Quioto, que, por condições climáticas, foi substituída. No dia 6 de Agosto de 1945, o avião B-29 apelidado de Enola Gay lança a bomba sobre Hiroshima, destruindo 69% da cidade e matando cerca de 80.000 pessoas (cerca de 30% da população da cidade), além de 70.000 feridos. Em 19 de Agosto de 1945, o B-29 apelidado de Bockscar, dirigiu-se à cidade alvo de Kokura, mas, devido à péssima visualização do terreno, dirigiram-se para Nagasaki: com um poder de destruição parecido àquele do teste Trinity, a explosão causou a destruição de aproximadamente 44% da cidade e a morte de 35.000 pessoas, além de 60.000 feridos. Aproximadamente 245.000 mortos e feridos foram contabilizados nestes dois dias, mas o número de mortes indiretas e danos populacionais causados pelos efeitos direitos e indiretos da radiação.
Erros e vergonha
Foto da explosão nuclear em Hiroshima. |
A justificativa do uso das bombas atômicas em zonas urbanas japonesas foi dada pelos americanos como a necessidade de forçar uma rendição que evitasse uma invasão militar que, segundo suas estimativas, poderia provocar um número muito maior de mortes. Entretanto, as condições políticas e econômicas do Japão já sinalizavam a predisposição do país à assinatura de um tratado de rendição. Sanções econômicas bastariam para, em poucas semanas ou meses, estrangular a já sufocada economia japonesa. Desse ponto de vista, o uso destas armas constituiu um dos piores crimes de genocídio contra a humanidade, em uma ação totalmente desnecessária. Em verdade, os norte-americanos não desejavam a rendição japonesa, que já seria fatalmente ocasionada, mas sim, a oportunidade e o pretexto de testar armas inovadoras e, ao mesmo tempo, intimidar as outras potências mundiais, especialmente os soviéticos. A longa Guerra Fria levaria a uma corrida armamentista nuclear entre a América e a União Soviética, colocando por diversas vezes o mundo sob a tensão de uma guerra nuclear. As armas atômicas foram criadas posteriormente, com um poder de destruição ainda maior. Cerca de 129.000 pessoas estiveram envolvidas no projeto, sendo destes 84.500 trabalhadores da construção civil, 1.800 militares e 40.500 operários das usinas. A maioria dos trabalhadores da construção civil e dos operadores das usinas não fazia ideia do que estavam de fato construindo. Foi o caso da operária de usina chamada Gladys Owens, que, 50 anos depois, ao visitar novamente as instalações onde trabalhou, relatou que jamais imaginou que seus esforços foram utilizados para construir um artefato de tamanho poder de destruição e que, se ela soubesse das reais intenções do projeto, muito provavelmente jamais teria trabalhado nele.
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