Amelia Earhart, em seu avião apelidado de Canário. |
Algumas pessoas se prendem apenas ao chão. Outras poucas pessoas são capazes de até mesmo conquistar os céus. Uma dessas foi Amelia Earhart, uma famosa aviadora norte-americana que conquistou diversas marcas pioneiras e fez da pilotagem sua vida. Amelia foi um símbolo não somente para as conquistas das mulheres, mas para a própria aviação em si.
Origens
Nascida em 24 de Julho de 1897, na cidade de Atchison, no estado do Kansas, EUA, Amelia Earhart (mais conhecida como "Lady Lindy") foi a décima sexta mulher na História a adquirir uma licença de pilotagem nos EUA. Passou a maior parte de sua infância na casa de seus avós maternos. Filha de Amy Otis e Edwin Earhart, ela testemunhou por diversas vezes as consequências do alcoolismo em sua vida familiar. Viciado em álcool, seu pai sofria de constantes recaídas. Desde a infância, Amelia e sua irmã Muriel eram atraídas pela aventura, explorando terrenos, descobrindo lugares novos e desafiando umas às outras. Com uma crise financeira familiar, Amelia e sua irmã moraram com os avós maternos até que ela completou dez anos. Sua infância foi pouco fixa, principalmente por conta das diversas mudanças causadas pelas buscas profissionais de seu pai. Em 1915, os pais de Amelia separam-se, e ela se muda com a mãe e a irmã para a cidade de Chicago. Nessa época, ela já se destacava nas aulas de Física e Química. Após sua graduação, Amelia se voluntariou para trabalhar na Cruz Vermelha, no Canadá, atendendo soldados feridos que regressavam das batalhas da Primeira Guerra Mundial. Nessa época, ela começou a nutrir profunda admiração pela aviação, sempre assistindo as apresentações da Royal Flying Corps. Em 1919, ela entra para a Universidade de Columbia, para estudar medicina, mas um ano depois, ela abandona os estudos para morar com seus pais, que, novamente reunidos, estavam na cidade de Columbia.
Início da carreira
Em 1920, durante um show aéreo em Long Beach, Amelia voou com um dos pilotos por apenas dez minutos. Estes dez minutos mudariam sua vida por completo, reafirmando, em seu coração, a paixão pelos aviões. Antes de sua carreira como aviadora, ela chegou a trabalhar em diversas funções, como fotógrafa e motorista de caminhões. Após juntar dinheiro, ela pagou por um curso de pilotagem, aprendendo suas primeiras lições com a aviadora Anita Snook. Após sua formação, ela conseguiu adquirir seu primeiro avião, um biplano de segunda mão, modelo Kinner Aister, o qual ela apelidou de Canário. Em 22 de Outubro de 1922, ela realizou um voo a uma altitude de 14.000 pés (o recorde para pilotos femininas na época), o que significava um grande feito para uma iniciante.
Dificuldades
Por conta de dificuldades financeiras, Amelia praticamente faliu no ano de 1924. Sem perspectivas de conseguir se manter através da aviação, ela vendeu o seu avião, o "Canário". Após mais uma separação de seus pais (que terminou em divórcio), Amelia e sua mãe viajaram por praticamente todo o país, de California até Boston. Em 1925 ela voltou à Universidade de Columbia, porém, mais uma vez ela precisou abandonar os estudos por conta dos poucos recursos financeiros dos quais dispunha. Nessa época, ela chegou a trabalhar como professora e assistente social. Mas os seus sonhos com a aviação jamais morreram.
Retorno
Em 1927, Amelia faz o seu retorno à aviação. Ela se torna membro da Sociedade Aeronáutica Americana (American Aeronautical Society). Dessa vez, Amelia passou a viver da aviação, trabalhando como representante de vendas para uma loja de aviões modelo Kinner, além de escrever artigos sobre aviação em um jornal local. Com parte do dinheiro que recebeu, ela fez investimentos no Aeroporto de Dennison, auxiliando em sua construção. Amelia já começava a se tornar uma celebridade, reconhecida pelo próprio meio dos amantes da aviação e respeitada mesmo pelos mais experientes pilotos de sua época.
Conquistas
Em Abil de 1928, Amelia recebeu um telefonema do capitão Hilton Railey, e, ao atender, ouviu a seguinte pergunta: "Gostaria de voar sobre o Atlântico?". Sua resposta só poderia ter sido uma: "sim!". Mas, com o convite, viria uma decepção: Amelia cruzaria o Atlantico como passageira. Segundo os planejadores da missão, esse era um voo demasiadamente arriscado para ser realizado por uma mulher sozinha. Então, em 17 de Junho de 1928, Amelia, Wilmer Stultz e Louis Gordon cruzam o oceano Atlântico após 20 horas e 40 minutos de voo, aterrisando em Burry Point, em Wales, no Reino Unido. Devido ao mau tempo, praticamente toda a pilotagem foi realizada por Stultz. Amelia confidenciou, depois, que ela se sentiu como uma simples bagagem, como se ela não estivesse realmente sobrevoando o Atlântico. Ela sabia que deveria realizar novamente essa missão, mas dessa vez, sozinha. Após a missão, os três foram recebidos pelo então presidente da época, Calvin Coolidge, na Casa Branca, onde foram gratificados pelo feito. Com o apoio presidencial, Amelia assistiu à uma rápida decolagem de sua carreira, tornando-se uma celebridade em todo o país e também no exterior. Mas ela ainda não tinha conquistado o seu maior feito. Aproveitando a celebridade, Amelia chegou a vender roupas com uma grife que levava o seu próprio nome, além de atuar como modelo para diversas marcas do mundo da moda. Ela desejava divulgar um modo seguro, firme e ousado de se vestir, mantendo, contudo, a feminilidade da mulher. Nesse período, ela trabalhou como editora associada para a mega revista Cosmopolitan, atuando também como promotora da Transcontinental Air Transport e da Trans World Airlines, duas grandes companhias de aviação civil norte-americanas. Na época, a aviação civil estava ainda tomando forma, e as contribuições de Amelia para a divulgação desse sistema de transporte ajudaram muito na popularização das viagens domésticas. Os voos transatlânticos tinham inclusive esse propósito: abrir caminho cada vez maior para as viagens aéreas intercontinentais. Amelia, entretanto, não deixou que sua popularidade lhe retirasse o foco daquilo que ela realmente amava. Ela realizou, sozinha, um voo de norte ao sul dos EUA, pouco tempo depois de sua primeira viagem transatlântica. Em 1929, ela disputou a corrida aérea feminina de Santa Monica a Cleveland, chegando em terceiro lugar. Em 1931, ela atingiu instituiu o recorde mundial de 18.415 pés de altitude em um voo. Ela se envolveu na organização Ninety-Nines, um grupo de mulheres apaixonadas por pilotagem, ajudando a promover a entrada da mulher na aviação. Em 1930, ela se tornou a primeira presidente do grupo.
O primeiro voo sobre o Atlântico
Apesar de ter sido apenas uma passageira no primeiro voo que realizou sobre o Atlântico, Amelia não desistiu de conquistar essa façanha. Amelia sabia de suas limitações, especialmente com sua dificuldade de assimilar as novas tecnologias de rádio e aparelhagem, e por esse motivo, sempre investiu em seu aprimoramento como piloto. Ela não enxergava este objetivo apenas como um mérito pessoal, mas sim, uma conquista para todas as mulheres. Ela e seu marido, Putnam, começaram a planejar o voo. Eles divulgaram a data oficial da missão para o dia em que o voo de Charles Lindbergh sobre o oceano Atlântico completaria 50 anos. Em Maio de 1932, no dia 20, eles se prepararam conforme o anunciado, em Harbour Grace. No momento da decolagem, entretanto, as más condições climáticas e atmosféricas frustraram a missão do casal. Para completar, problemas mecânicos surgiram na aeronave. Mesmo com estas adversidades, no dia 22 de Maio de 1932, ela realizou o voo sobre o Atlântico, completando o trajeto em 15 horas (o que era um verdadeiro recorde para a época), pousando na cidade de Londres, no aeroporto de Hanworth. Foi calorosamente recebida pela população londrina, e, como reconhecimento, recebeu a Medalha de Ouro da Sociedade Geográfica Nacional (National Geographic Society), recebendo também a Cruz de Voo Distinto (Distinguished Flying Cross) entregue pelo presidente dos EUA, na época, Hoover, e por todo o Senado norte-americano. Também foi condecorada com a Cruz do Cavaleiro da Legião da Honra, do governo francês. Ela também realizou um voo de Honolulu, no Havaí, até Oakland, na Califórnia. Esse feito lhe garantiu o mérito de ter sido a primeira mulher a sobrevoar não só o oceano Atlântico, mas também o Pacífico. Em 1935, ela voou da Cidade do México até Nova York. Entre 1930 a 1935, ela estabeleceu sete recordes de distância e velocidade em diversos modelos de aviões. Em 1935, ela planejou uma meta ainda mais ambiciosa: voar ao redor de todo o mundo.
Morte e legado
Amelia não chegaria a realizar tal façanha, entretanto. Em 1937, dando continuidade ao seu ambicioso projeto de sobrevoar ao redor do mundo, ela enfrentou diversos problemas climáticos e, no dia 3 de Julho de 1937 ela desapareceu misteriosamente, sem deixar registros, e sem jamais ser encontrada. Apesar dos esforços do presidente Franklin Roosevelt, que chegou a designar 66 aviões parra a realização de buscas e investir quatro milhões de dólares nas buscas por Amelia, sua morte continua sendo um mistério, e provavelmente ela teve como túmulo o mesmo oceano pelo qual se tornou memorável e notória. Em 5 de Janeiro de 1939, ela foi oficialmente dada como morta. Amelia deixou como legado uma imensa contribuição, tanto em conhecimentos de aviação, como em estabelecimento de recordes de altitude, velocidade e distância. Amelia também retirou o estereótipo de que as grandes aviações não eram atividades apropriadas para mulheres, ajudando a incluir a figura feminina no âmbito da aviação.
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