Insurgentes paulistas de 1932. |
Getúlio Vargas governou o Brasil com mãos de ferro. Mas não governou sem oposição. O líder populista enfrentou duas grandes revoltas: a Intentona Comunista e a Revolta Tenentista. Vamos estudar sobre esta segunda, que mobilizou o estado mais industrializado do país e criou grandes enfrentamentos entre as próprias forças armadas.
O fim da República Velha
Ao centro, Getúlio Vargas, que toma o poder no Golpe de 1930. |
A Revolução de 1930 foi um movimento militar resultante da união entre os estados de Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande do Sul. Dessa revolta surgiu um golpe de Estado, que retirou do poder o então presidente Washington Luís, em 24 de Outubro de 1930 e também impediu a eleição de Júlio Prestes. Até então, o governo do Brasil era basicamente uma alteração entre candidatos de São Paulo e de Minas Gerais, no que ficou conhecido como a "República do Café com Leite" (café por conta de São Paulo, e leite por conta de Minas). Mas em 1929 os paulistas romperam com essa aliança e promoveram o candidato Júlio Prestes. Em resposta, os mineiros promoveram o candidato da oposição, Getúlio Vargas. Júlio Prestes foi eleito em 1930, mas Getúlio liderou um golpe em 3 de Outubro do mesmo ano, depondo Prestes. Terminava assim a República Velha e se iniciava o período do Governo Provisório.
Reações
A Revolta Tenentista, também conhecida como Revolução Constitucionalista de 1932, foi um movimento da classe militar paulistana, especialmente em resposta à Revolução de 1930 que retirou do poder o candidato eleito, Prestes. Os paulistas não ficaram nada felizes com a perda do poder presidencial, e através do Partido Republicano Paulista (PRP), reuniram as forças conservadoras contra o Partido Democrático de São Paulo (PDSP) que havia dado apoio à Revolução getulista. São Paulo era a maior representação da estrutura oligárquica, justamente a estrutura que foi prejudicada com a chegada de Getúlio. Podemos dizer que a Revolta Tenentista foi, primeiramente, uma luta entre paulistas.
São Paulo insatisfeita
Militantes da Revolta Tenentista de 1932. |
Plínio Barreto foi nomeado para o governo de São Paulo, mas, como era constitucionalista e fiel ao governo getulista, não obteve simpatia. Em seu lugar surgiu Laudo Ferreira de Camargo, que também renunciou em 1931. Manuel Rabelo governou o estado no lugar destes, e como era ligado aos tenentes, conquistou o apoio dos paulistas. Em Fevereiro de 1932, o Partido Democrático rompe com Vargas e se aproxima dos republicanos paulistas do PRP, seus antigos inimigos, formando a Frente Única Paulista (FUP). Basicamente, a FUP exigia autonomia administrativa para o estado de São Paulo e se opunha ao governo provisório de Getúlio (que de provisório só tinha o nome).
Rompimento e desconfortos
Vargas tentou frear a crescente revolta paulista, nomeando Pedro de Toledo como interventor do estado de São Paulo. Pedro apresentou o Código Eleitoral aprimorado e propôs novas eleições presidenciais para 1933. Mas isso não satisfez o movimento tenentista. A situação toda piorou com a morte dos estudantes Miragaia, Martins, Dráusio e Camargo, estudantes simpáticos ao movimento mortos pelas forças getulistas. Surge então o grupo MMDC (iniciais dos estudantes mortos), com o intuito de derrubar Vargas. O movimento tenentista ganhava cada vez mais força.
A Revolta explode
Em 9 de Julho de 1932, na capital de São Paulo, explode a Revolução Constitucionalista. Isidoro Dias Lopes, um general, é o líder do movimento. Ele já havia lutado na revolta de 1924. O movimento teve ainda apoio de militares como Bertoldo Klinger e Euclides Figueiredo, além de diversos segmentos das oligarquias e da classe média paulista.O conflito com as forças federais durou poucos meses. Os paulistas se esforçaram muito e realmente desejavam emancipação em relação ao governo Vargas. A mobilização industrial foi imensa, tanto para produção de armas quanto de inúmeros gêneros de primeira necessidade. O destaque industrial paulista fica ainda mais evidente com o conflito. Mas esse destaque seria suficiente para vencer o governo?
Isolamento
O estado de São Paulo, mais industrializado do que o resto do país, mesmo com toda a sua força, não conseguiu resistir. Estava, agora, isolado. Os tenentistas pensavam poder contar com o apoio de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul, mas, embora estes governos se declarassem favoráveis ao movimento, ironicamente se mantiveram ao lado de Vargas. Em 1 de Outubro de 1932 a revolta paulistana foi esmagada e o fracasso da Revolução Tenentista se completou com a assinatura da rendição que terminou o combate. Os principais líderes do movimento perderam seus direitos políticos e foram deportados para Portugal. Getúlio nomeou então, como interventor de SP, o general Valdomiro Lima, tio de sua mulher, mas ficou no cargo apenas até 1933.
Lições e consequências
Cartaz de convocação do movimento paulista. |
A Revolta Tenentista de 1932 mostra a sempre frágil estrutura federativa do Brasil. O sentimento de separatismo é sempre presente, principalmente em estados como São Paulo, Rio Grande do sul, Santa Catarina e Paraná. Apesar da vitória de Getúlio, todo o seu governo foi marcado por uma relação difícil com o estado revoltoso. São Paulo é o exemplo das revoltas e revoluções brasileiras sempre mais regionais e locais do que propriamente nacionais. Enquanto a Intentona Comunista não chegou nem perto de ameaçar ou instabilizar o governo varguista, a Revolta Tenentista demonstrou muito mais poder de atingir o governo central. Os paulistas fortificaram seus laços culturais e sua identidade ainda mais após esse episódio, e o desejo de emancipação, embora distante, ainda é existente. Os governos federais, no Brasil, sempre parecem mais pautados pelo coleguismo de apadrinhamento do que propriamente o planejamento nacional, e a Revolução de 1932 deixa isso bem evidente.
Referências:
Fundação Getúlio Vargas
Referências:
Fundação Getúlio Vargas
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