Stalin, em um discurso perante os membros do Partido Comunista. |
A figura de Adolf Hitler inspira, ao mesmo tempo, ódio e admiração. O líder do último Reich alemão é tido como uma das figuras mais monstruosas (e mais geniosas) de toda a História. Se, por um lado, seus crimes (sempre aumentados por seus críticos, e sempre amenizados pelos revisionistas) parecem não encontrar nada à altura, temos na figura de outro homem, nascido na Geórgia, um nível de atrocidade superior ao de Hitler e de qualquer outro líder de Estado de que tenhamos notícias. Falamos da emblemática figura de Joseph Stalin. Responsável por crimes (muitas vezes exagerados) de incontáveis vítimas, pela modernização da Rússia e pelo enfrentamento ao Nazismo, Stalin pode ser considerado o líder totalitário mais intrigante já existente.
A dura infância
Foto de Stalin, ainda criança. |
O caminho político
Sua mãe, uma cristã ortodoxa fervorosa, queria que ele se tornasse padre. Na escola religiosa de Gori, ele se saiu bem, graduando-se no Seminário Teológico de Tiflis em 1894. Mas sua vida seguiria um rumo menos sagrado. Em 1895, aos 16 anos, Stalin entra para o grupo separatista Messame Dassy, uma organização que lutava pela independência da Geórgia em relação ao Império Russo. Alguns dos membros eram socialistas, e foi assim que Stalin se introduziu aos escritos de Karl Marx e Vladimir Ilitch Lênin. Em 1898, ele se une ao grupo e inicia aí sua vida de ativismo político.
Assaltando bancos
Em 1901, ele se une ao Partido Social Democrático do Trabalho, atuando como um revolucionário no movimento trabalhista. Nessa época, Stalin ganhou fama realizando diversas ações clandestinas e criminosas, entre elas, assalto à bancos. Em 1902 ele foi preso por conta de seu ativismo político e enviado à Sibéria, lugar para onde ele iria várias vezes durante sua vida como revolucionário. Nessa época, ele adota o apelido de Stalin, que significa "aço" em Russo.
Lutando na Revolução
Stalin, ainda jovem, em fotos tiradas pela polícia czarista durante uma de suas prisões. |
Stalin ganhou notoriedade atuando em operações durante a Revolução socialista na Rússia, convocando reuniões, distribuindo panfletos e ajudando a organizar greves e protestos. Ele foi marcado pela Okhranka - a polícia secreta tzarista - como um fora da lei e continuou seu trabalho na clandestinidade, escondendo-se, roubando bancos para levantar fundos, fazendo sequestros e praticando extorsões. Seu roubo mais famoso a um banco foi o assalto ao Banco de Tiflis, que ocasionou muitas mortes e resultou em um furto de um valor estimado em U$3.4 milhões de dólares. Em 1917 os Bolcheviques tomam o poder, fazendo o tzar Nicolau II abdicar do trono. Os revolucionários executaram o tzar e toda a sua família, posteriormente. Em Outubro, sob a liderança de Lênin, os Bolcheviques se afirmam no poder em definitivo.
Conquistando o Partido
Em 1922 ele foi apontado como secretário geral do Partido Comunista. Na época, não era um cargo muito significante, mas garantiu a Stalin o controle sobre a escolha dos membros do Partido, o que lhe permitiu formar uma ampla base de aliados políticos. Estes aliados seriam o sustento e a garantia durante seus quase 20 anos ininterruptos de poder. Stalin conseguiu constituir a cúpula do Partido exclusivamente de aliados seus, o que, inevitavelmente, fez com que todos os grandes homens de poder devessem obediência e lealdade a ele. Após a morte de Lênin em 1924, Stalin começou a executar os antigos líderes do Partido Comunista, tomando total controle sobre ele. Parte foi executada, parte foi exilada. Stalin mal chegara ao poder e agora já não possuía praticamente oposição alguma. Seus excessos de paranoia fizeram com que ele eliminasse também membros da própria base aliada, da alta cúpula do Partido e depois, oficiais e civis acusados de "atividades contra revolucionárias".
Coletivização agrícola
No final dos anos 1920, Stalin iniciou a política de coletivização agrícola. Isso significou o confisco de praticamente todas as propriedades rurais e sua divisão em pequenas faixas de terra, divididas entre comunidades de agricultores que realizavam o trabalho em conjunto e, em troca, recebiam pagamentos e/ou recompensas em gêneros alimentícios. Essas eram as fazendas coletivas. Entretanto, a realidade diferia da teoria: na prática, os fazendeiros, já miseráveis na época do czarismo, continuaram na mesma situação de miséria, com a única diferença que não sustentavam mais um imperador, mas sim, todo um partido. A produção agrícola caiu e, vítimas de um projeto forçado e pragmático, milhões morreram durante estas políticas de coletivização.
Industrialização rápida
Herança do período imperial, a Rússia ainda era uma nação praticamente medieval. A maioria da população vivia no campo e as indústrias, muito escassas, eram extremamente concentradas e estavam, em sua maioria, nas mãos dos capitais estrangeiros. Stalin primeiro realizou a nacionalização destas indústrias e, depois, forçou uma política de rápida industrialização. Inúmeros contingentes de pessoas retiradas do campo eram levadas à força para trabalhar nas novas regiões industriais. A tirania do czar foi substituída pela tirania de Stalin e dos dirigentes do partido. Os opositores do projeto eram presos ou executados. Entretanto, Stalin conseguiu garantir uma rápida industrialização que mostrou progressos e resultados consideráveis. Mas, enquanto a indústria crescia, o setor agrícola recuava.
Expurgos, exílios e prisões
Os números mais exagerados apontam que Stalin foi responsável pela morte de cera de 25 a 43 milhões de pessoas. Estes números, contudo, carecem de fontes históricas confiáveis, fruto de uma contabilidade muitas vezes errada (vítimas de desastres naturais e baixas de guerra são colocadas nessa conta, por exemplo). Independente do número, é certo que a casa das vítimas de Stalin ultrapassa os milhões. Suas vítimas mais comuns eram opositores políticos, oficiais de destaque, civis que se recusavam à trabalhar nas áreas determinadas, entre outros. Geralmente, eram fuzilados, mas também eram enviados ao exílio ou a trabalhos forçados nos campos chamados de Gulags, sendo os mais famosos encontrados na fria Sibéria.
A foice e o martelo e a suástica nazista
Sátira retratando a aliança entre Hitler e Stalin. |
Em 1939, com o início da Segunda Guerra, Stalin realiza um pacto com o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães. A União Soviética da foice e do martelo, liderada por Stalin, e a Alemanha nazista de Hitler, estendem e apertam as mãos em um acordo que, depois, seria quebrado. Dessa forma, a União Soviética alimentou durante um bom tempo o monstro que iria atacá-la, enviando armas, recursos minerais e alimentos para o Reich. Em 1941, os nazistas atacam a URSS, e, mesmo sendo avisado dos perigos do ataque, Stalin não fez qualquer preparativo. As forças do Exército Vermelho, pegas despreparadas, sofrem pesadas baixas. A Alemanha tomou a Ucrânia, Belarus, e chegou até os portões de Moscou.
Vencendo o Nazismo
Em seus expurgos, Stalin matou a maior parte de seus generais veteranos. Um deles, entretanto, sobreviveu: Zhukov. Este brilhante general foi responsável por vencer os nazistas na batalha de Moscou, libertar Leningrado e Stalingrado m 1943 e repelir os nazistas, retirando-os do território soviético. Em 1945, na batalha de Berlim, a capital do antigo Reich é conquistada e a bandeira socialista tremula no topo do Reichstag. Stalin aproveita os méritos de seus poucos generais competentes e clama para si a honra de ter vencido o nazismo e o fascismo, "inimigos da revolução proletária".
Da direita para a esquerda: Churchill, primeiro ministro britânico; Roosevelt, presidente dos EUA; e Stalin, líder da União Soviética, em encontro estratégico durante a Segunda Guerra Mundial. |
Família destruída
Stalin não foi exatamente o melhor modelo de pai e marido. Sua primeira esposa, Ekaterina Svanidze - com quem teve um filho e se casou em 1906, morreu em 1907, de tifo. Sua segunda esposa, Nadezhda Alliluyeva, com quem se casou em 1919, ela provavelmente sofreu de bipolaridade e transtornos mentais. Indícios deixam nítido que a vida do casal era tumultuada e confusa, com discussões e brigas que aconteciam até mesmo em público. Ela foi encontrada morta em sua cama, com um revólver ao lado de seu corpo. Mas isso em si não comprova de fato que ela morreu de suicídio, já que existe a probabilidade de ela ter sido executada. Eles tiveram dois filhos: Vasily Iosifovich Dzhugashvili, que morreu por conta de alcoolismo crônico, e Svetlana Iosifovna Alliluyeva, com uma vida que deixou indícios de quadros de depressão grave.
O culto à Stalin
Pôster de propaganda soviética, retratando Stalin. |
Durante sua vida política, Stalin instituiu um verdadeiro culto à sua imagem, que em vários aspectos superou até mesmo o culto à Marx, Engels e Lênin. Diversos locais recebiam ruas com seu nome, estátuas, memoriais e outras decorações que ilustravam o "paizinho", como era carinhosamente chamado pelo povo russo. Esse culto à personalidade não se limitava à monumentos e referências culturais: tomou a forma de uma séria censura política e cultural. A mínima crítica a Stalin era tida como propaganda capitalista de espírito burguês, e inúmeros artistas, escritores, romancistas e diretores de cinema foram presos ou exilados muitas vezes sem nem mesmo realizar qualquer crítica ao regime stalinista.
Morte e legado
Stalin morreu em 5 de Março de 1953, supostamente por um ataque cardíaco. Apesar de suas atrocidades e do pesado jugo que exerceu ao povo soviético, sua morte foi recebida com forte tristeza e um luto praticamente total do povo. Entretanto, é difícil saber se choravam por sentirem sua falta ou pelo medo de futuras repressões, conduzidas por uma política que criou na mente do povo um misto de admiração e temor. Stalin não deve, entretanto, ser tratado meramente como um monstro. A vida que levou influenciou fortemente todo o seu comportamento adulto. Se, por um lado, o povo sofreu duros castigos por conta dele, também foi pela direção de Stalin que um país rural e atrasado conseguiu sua industrialização em menos de duas décadas, algo que demorou quase dois séculos para a Europa ocidental. Também é respeitável a conquista sobre os nazistas, que sofreram suas primeiras derrotas por conta dos soviéticos. Não devemos atribuir todos estes méritos a Stalin, mas sim a cada um dos homens e mulheres que deram suas vidas em prol de seu povo. Ele permanece como um ícone: não sabemos o que é verdade ou mentira a seu respeito, e, como a História testemunha, o pior assassino pode ser transformado em um santo, e o mais nobre dos santos pode ser feito como demônio, tudo de acordo com as versões "históricas" criados em torno de um personagem. A URSS que conseguiu competir com os EUA deveu muito a Stalin. O apogeu do regime, bem como sua queda em 1991, foram consequências diretas das políticas stalinistas.
Stalin, em seu caixão, durante funeral no Mausoléu dos grandes nomes da URSS. Durante algum tempo, permaneceu ao lado do mausoléu de Lênin, mas protestos posteriores exigiram a retirada de seu corpo do local. |
Referências externas:
Biography.com
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