A antiguidade e o medievo são períodos repletos de exemplos militaristas e figuras de grande renome, principalmente em liderança. Nestas épocas, a infantaria exerceu papel essencial. Os gregos foram senhores supremos da Europa por conta de suas falanges compactas formadas por seus hoplitas, e com estas falanges o macedônio Alexandre o Grande dominou quase todo o mundo então conhecido; os romanos formaram suas legiões com seus bem equipados legionários e submeteram quase todos os povos bárbaros. Com a Idade Média, a infantaria cedeu lugar à força dos cavaleiros. No campo de batalha, os cavaleiros montados em seus cavalos bem equipados, membros ricos da sociedade feudal, eram determinantes para a vitória. Mas a força de infantaria continuou com o seu brilho típico: os guerreiros huskarl formaram aquilo que foi, provavelmente, a mais profissional força de infantaria do período medieval.
Sangue e honra
Os guerreiros chamados de huskarl (húskarlar, em nórdico, no plural; húskarl, no singular)são a obra prima da infantaria medieval. Sua origem é escandinava. Estes guerreiros atuavam como "mercenários", prestando serviço a nobres e reis, e geralmente sendo empregados como guardas pessoais de elite. Foram utilizados para atividades militares de campo e não raramente provavam sua superioridade mesmo contra as mais bem treinadas cavalarias. Na Inglaterra, tornaram-se a força militar principal no século XI de nossa era, após a dominação do país pelo reino da Dinamarca.
Hastings
Dentre as diversas batalhas nas quais estes guerreiros ferozes participaram, provavelmente a mais famosa é a de Hastings. Liderados por Harold Godwinson, chefe dos ingleses, lutaram contra William II da Normandia, que comandava a coalizão dos franceses e normandos. Apesar da derrota sofrida contra os normandos, os huskarl mostraram-se extremamente úteis em combate.
Guarda de elite
Os húskarlar foram utilizados como guardas de elite pessoal dos vários nobres da Europa. Dentre os mais famosos corpos de guardas, está a elite militar de Canuto, rei da Inglaterra, que governou o país no século XII d.C. Através da Lex Castrensis, Canuto estabeleceu que sua guarda particular seria composta de guerreiros húskarlar. O guerreiro huskarl era um dos poucos que tinha o privilégio de permanecer no salão real nas festividades e comer na mesa do rei juntamente com ele. Mas, com os privilégios, vieram também as obrigações do dever: traição e ações consideradas graves eram punidas com o exílio ou a morte. Estes guerreiros eram submetidos a um código militar muito mais severo do que os seus companheiros de armas de patentes mais baixas. Até mesmo seus julgamentos eram realizados por um tribunal específico: o Huskarlesteffne, cujas decisões eram assistidas pelo próprio soberano.
Fyrd
Depois do reinado de Canuto na Inglaterra, o termo huskarl deixou de ser empregado para os descendentes da casa específica e foi expandido para todos aqueles que eram considerados guerreiros de elite, superiores aos Fyrd, forças criadas por camponeses livres que proviam seus próprios armamentos e materiais, que prestavam um serviço militar durante um tempo determinado de curta duração, ou seja, não chegavam a constituir uma força militar mobilizada oficialmente e de modo fixo.
Depois do reinado de Canuto na Inglaterra, o termo huskarl deixou de ser empregado para os descendentes da casa específica e foi expandido para todos aqueles que eram considerados guerreiros de elite, superiores aos Fyrd, forças criadas por camponeses livres que proviam seus próprios armamentos e materiais, que prestavam um serviço militar durante um tempo determinado de curta duração, ou seja, não chegavam a constituir uma força militar mobilizada oficialmente e de modo fixo.
Contra os Vikings
O reino da Inglaterra sofreu diversos assaltos realizados pelos vikings, a partir de 793 d.C., quando o primeiro monastério foi invadido e saqueado, em Lindisfarne. Em 860 d.C., os vikings abandonaram essa estratégia de saques rápidos e deslocaram uma força considerável para a ilha. Não era um simples assalto, agora era uma invasão completa. Quem poderia desafiar estes guerreiros impiedosos? Alfredo, o rei da Inglaterra, tomou várias medidas para conter os vikings: fortificou a marinha, estabeleceu uma cavalaria organizada e reestruturou sua infantaria. Também estabeleceu diversas praças fortes, chamadas de buhrs. Os húskarlar participaram ativamente como força de elite contra os invasores vikings. Os Fyrd foram transformados em uma força militar fixa, e os húskarlar receberam incentivos ainda maiores. Essas medidas permitiram que os saxões governantes da Inglaterra salvassem o seu reino contra os até então invencíveis vikings.
Equipamentos
Os húskarlar não possuíam equipamentos que lhes conferissem "superioridade" aos demais guerreiros. Na verdade, eles basicamente usavam escudos compridos ou pequenos escudos redondos, cotas de malha, elmos e espadas longas com empunhadura para uma ou duas mãos. Podiam colocar seus escudos pendurados em suas costas e lutar com suas duas mãos, empunhando as espadas longas (longswords). Raramente usavam arcos. Também empunhavam machados para as duas mãos e lanças. Apesar de que seus escudos oferecessem proteção considerável, suas cotas de malha eram facilmente perfuradas por espadas, lanças e flechas inimigas. Seus equipamentos eram muito similares aos de qualquer força da época, superiores apenas aos de forças de camponeses. Então, qual o segredo do sucesso dos húskarlar? O que fez destes homens guerreiros tão bons? Em primeiro lugar, a mística que os envolvia: herdeiros de uma casa guerreira tradicional; depois, seu excelente treinamento e o companheirismo existente entre eles. Mais do que uma força militar, os húskarlar eram uma fraternidade, uma irmandade com elos indestrutíveis.
Pagãos lutando pela Cruz
Os húskarlar eram tradicionalmente guerreiros nórdicos pagãos. Com a cristianização da Europa, muitos deles tornaram-se convertidos ao Cristianismo, mas grande parte manteve seus ritos pagãos, mesmo dentre aqueles que haviam se "convertido". os húskarlar lutaram ao lado de diversos reis cristãos, sendo o serviço mais considerável exercido para o Império Romano do Oriente. Os bizantinos fizeram dos húskarlar sua guarda de elite, e a cidade de Constantinopla manteve-se segura por séculos por conta destes bravos homens. A decadência comercial e o isolamento do Império Bizantino e a dificuldade de defender as fronteiras, fatalmente, fez com que mesmo os húskarlar não fossem capazes de manter o Império a salvo. Estes nobres guerreiros lutaram ao lado dos maiores reis da Europa e se mantiveram ativos mesmo durante o período Medieval. Foram responsáveis pela defesa da Europa cristã e pelo impedimento do avanço islâmico turco durante muito tempo.
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