Alguns homens parecem nascidos para a guerra. Eles são líderes talentosos por natureza e parecem até mesmo imbatíveis em campo de batalha. É notório que o sucesso de um comandante militar só é possível através da dedicação e do esforço de cada um de seus soldados; mas não devemos negligenciar a importância de um caráter de liderança forte. Anton Ludwig August Von Mackensen sem dúvida foi um destes homens.
Nasce um mito
O marechal August Von Mackensen nasceu de uma família humilde, na província prussiana da Saxônia, na cidade de Haus Leipnitz, em 6 de Dezembro de 1849. Desde cedo, o gênio militar de August foi observado por seus pais, que lhe educaram para esse propósito. Em sua juventude, uniu-se ao exército, atuando como voluntário do Leib-Husaren-Regiment Nr. 2 (Segundo Regimento Hussardo de Vida), e cresceu rapidamente através das patentes. Ele chegou a liderar o Regimento de Elite Hussar. Mackensen, orgulhoso de sua posição, passou a utilizar o típico uniforme negro dos Hussars. Durante a guerra Franco-Prussiana, da qual Otto Von Bismarck foi um grande estrategista, Mackensen tornou-se um veterano condecorado e depois se uniu ao Estado Maior dos Generais da Alemanha. Foi até mesmo tomado como um possível sucessor para o marechal de campo Alfred Von Schlieffe. Foi condecorado com a Cruz de Ferro.
O melhor cavaleiro da Alemanha
Mackensen deixou o serviço militar após a guerra Franco-Prussiana e estudou na Universidade de Halle. Em 1873, ele retornou ao exército comandando o seu antigo regimento. Mackensen foi considerado como o melhor cavaleiro do Império, sendo direcionado para ministrar aulas como tutor de História Militar sob a administração do futuro kaiser Wilhelm II, que, depois, matriculou seu próprio filho para tomar aulas com Mackensen.
Amigo do kaiser
Mackensen manteve relações próximas com o imperador, que se mantiveram por muitos anos. Em 1891, ele se uniu ao Estado Maior em Berlim. Mackensen foi muito influenciado por Alfred Von Schlieffen, o chefe do Estado Maior militar. De 17 de Junho de 1893 a 27 de Janeiro de 1898, ele comandou o Leib-Husaren-Regiment Nr. 1 (Primeiro Regimento Hussardo de Vida). Mackensen recebeu um título de nobreza em 27 de Janeiro de 1899, sendo, a partir de então, chamado de August Von Mackensen. De 1901 a 1903, ele liderou o Leib-Husaren-Brigade (Brigada de Vida Hussar). De 1903 a 1908 ele liderou a 36ª Divisão de Danzig.
Quando Schlieffen se retirou de seu cargo como chefe de Estado Maior militar, em 1906, Mackensen foi tido como o sucessor mais provável. Mas o empregou acabou sendo ocupado por Helmuth Von Moltke. No ano de 1908, Mackensen recebeu o comando do 17º Corpo do Exército, até pouco antes da eclosão da Primeira Guerra Mundial.
Contra os russos
Aos 65 anos de idade, Mackensen entrou para a guerra em 1914, no comando do 17º Corpo do Exército, como parte do 8º Exército, sob as ordens do general Maximilian Von Prittwitz, e, depois, sob as ordens de Hindenburg. O Exército Imperial Russo invadiu o oeste da Prússia, para onde Mackensen foi após vencer as batalhas de Gumbinnen e Tannenberg. Em 2 de Novembro de 1914, ele tomou o comando do 9º Exército. Ele também venceu batalhas em Łódź e em Varsóvia, na Galícia e tomando as cidades de Przemyśl e Lemberg. Ele recebeu a Pour le Mérite on 3 de Junho de 1915 e promovido a marechal de campo em 22 de Junho do mesmo ano. Após sua bem sucedida campanha contra os russos, recebeu a Ordem da Águia Negra, a mais alta condecoração da Prússia. Em 4 de Junho ele recebeu também a Ordem Militar de Max Joseph, a mais alta honraria militar da Bavária.
Sérvia...
Em Outubro de 1915, Mackensen comandou o novo Grupo Mackensen de Exército (Heeresgruppe Mackensen), reunindo tropas austríacas, alemãs, húngaras e búlgaras contra a Sérvia. A vitória foi decisiva e esmagou as tropas do governo sérvio hostil ao Império Alemão. Após um período, entretanto, o exército sérvio em seus remanescentes foi recuperado e rearmado pelos franceses e italianos, lutando no front Macedônio. Mackensen nunca subestimou as tropas sérvias, apesar de não serem tão fortes quanto os franceses e russos. Sabia que estava lutando em território inimigo e, por isso mesmo, deveria ter mais cuidado. Em Belgrado, Mackensen encontrou uma resistência sérvia obstinada. Acabou por vencer, e, em honra aos inimigos derrotados, erigiu um monumento aos guerreiros sérvios com os dizeres "HIER RUHEN SERBISCHE HELDEN" (Aqui descansam os heróis sérvios), tanto em língua alemã quanto em língua sérvia. Sua consideração foi tão grande que, dentre todos os inimigos dos sérvios, apenas ele é mencionado com honra.
Mackensen e o Kaiser Wilhem II. Mackensen deu aulas para o filho do imperador da Alemanha. |
... e Romênia
Em 1916 Mackensen, sob as ordens de Erich Von Falkenhayn, liderou uma campanha bem sucedida contra a Romênia. Comandou uma tropa de búlgaros, turcos otomanos e alemães. Obteve vitórias contra todos os exércitos opositores. Em 1917 ele foi condecorado com a Grande Cruz da Cruz de Ferro, um prêmio que só foi concedido a ele e a outros quatro comandantes da Primeira Guerra. Em 1917, Mackensen tornou-se o governante da Romênia ocupada. O exército romeno foi reorganizado e August tentou destruí-lo novamente, na batalha de Mărăşeşti. Entretanto, a batalha terminou sem vencedores, com muitas baixas de ambos os lados. Esta foi a primeira batalha onde Mackensen não obteve a vitória. Ao fim da guerra, ele foi capturado pelo general francês (aliado dos romenos) Louis Franchet d'Esperey, na Hungria. Até Novembro de 1919, ele foi mantido como preso militar em Futog.
Mackensen era ao mesmo tempo admirado e odiado pelos nazistas: admirado por ser um herói nacionalista; odiado por ser um opositor do regime. |
Em 1920, Mackensen saiu da vida militar. Ele se opôs ao recente sistema republicano, e se afastou da vida política. Em 1924, ele mudou sua mentalidade e começou a usar sua imagem de herói de guerra para dar suporte político aos monarquistas conservadores. Começou a aparecer em público, em seus trajes militares, e participou ativamente de grupos militares como o Stahlhelm e a Sociedade Schlieffen. Em 1932, ele deu apoio ao candidato Paul Von Hindenburg, contra seu oponente, Adolf Hitler.
Opositor
Em 1933, Adolf Hitler toma o poder. É difícil dizer com exatidão se Mackensen foi um opositor ou um apoiador do regime nazista. Por algumas de suas atitudes, podemos considerar que ele não foi o maior fã do nazismo.Ele abertamente apoiou os opositores de Hitler; criticou abertamente a política de massacres nazistas na Polônia e desobedeceu várias das ordens de Hitler. Ele só não foi eliminado pois sua figura, popularmente conhecida e admirada, fazia dele um "adversário intocável". No funeral do antigo Kaiser Wilhelm II, na Holanda, Mackensen apareceu com seus trajes militares em honra ao seu antigo imperador, contrariando as ordens de Hitler para que nenhum militar comparecesse ao evento.
Fim de uma Odisseia
Mackensen e sua família, em seu aniversário de 80 anos. |
Mackensen sobreviveu ao Nazismo e à Segunda Guerra. Ele foi encontrado, em 15 de Abril de 1945, por tropas britânicas, em sua casa. Quando os soldados o capturaram, esperavam que ele fizesse uma declaração formal de rendição com exigências, mas ele apenas teria pedido que "não deixassem que os trabalhadores estrangeiros roubassem suas galinhas". August Von Mackensen foi um dos últimos cavaleiros da Alemanha. Fez do exército imperial alemão uma máquina forte, foi decisivo para as vitórias na Primeira Guerra e nas campanhas da Sérvia e da Romênia. Mackensen foi um ativo e corajoso opositor do regime nazista, se posicionando contra a execução dos generais Ferdinand Von Bredow e de Kurt Von Schleicher na "Noite das Facas Longas", um massacre nazista contra opositores. Mackensen era a figura do velho homem, do resquício do Império Alemão, um conservador convicto e um dedicado monarquista, mas também foi a oposição viva a um regime usurpador, sempre enérgico e destemido, tão famoso por seus atos que jamais pôde ser eliminado por seus inimigos. Morreu em 8 de Novembro de 1945, com a idade de 95 anos. Ele assistiu, durante sua vida, o Reino da Prússia, a Confederação do Norte da Alemanha, o Império Alemão, a República de Weimar, a Alemanha Nazista e a Alemanha ocupada do pós-guerra. Seu respeito aos inimigos foi também uma de suas marcas.
Um verdadeiro alemão
ResponderExcluirUma lenda do Exército Alemão.
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