Elizabeth Feodorovna, grã-duquesa de Hess e Rhine |
Inúmeras mulheres constituem aquilo que podemos considerar como "tesouros", tanto para a História quanto para a própria vida. Muitas delas exerceram grande influência política, econômica, religiosa e cultural. Uma destas grandes mulheres foi a grã duquesa Elizabeth Feodorovna, uma mulher que, posteriormente, devotou sua vida ao cuidado dos mais necessitados.
Infância
Elizabeth Feodorovna veio de uma linhagem aristocrática. Filha do grão-duque Louis IV de Hesse e da princesa Alice do Reino Unido, nascida em 1 de Novembro de 1864 em Bessungen,Darmstadt, na província de Hesse, no Império Alemão, ela viveu sua infância como neta da famosa rainha Vitória do Reino Unido. Vitória tinha tantos netos e netas e parentes correlatos pela Europa afora que foi apelidada de "avó da Europa". Sua mãe lhe deu este nome de batismo após visitar um santuário da Santa Elizabeth da Hungria, uma das ancestrais da casa dos Hesse em Marbugr. Como tornou-se devota da santa, decidiu homenageá-la batizando sua filha com este nome.
A família de Elizabeth, da Casa dos Hesse. Ela era a filha mais velha. |
Ancestralidade aristocrática
A mãe de Elizabeth veio de uma das mais antigas e nobres casas da Alemanha. Entretanto, Elizabeth viveu uma infância considerada modesta pelos padrões da realeza. Por exemplo: desde cedo, ela e as outras crianças costumavam limpar e arrumar seus próprios quartos, limpar o chão e as escadas. Durante a guerra Austro-Prussiana, Elizabeth, ainda pequena, visitava feridos de guerra junto com sua mãe. Elizabeth, apesar de alemã, cresceu cercada de costumes britânicos, sendo sua mãe neta da rainha Vitória. Sua primeira língua foi o Inglês. A própria Elizabeth disse, mais tarde, que ela e seus irmãos falavam Inglês com sua mãe e Alemão com seu pai.
Uma epidemia de difteria se alastrou na família de Elizabeth. Ela chegou a perder sua irmã mais nova, Marie, em 16 de Novembro de 1878. Sua mãe, Alice, também morreu no mesmo ano, em 14 de Dezembro. Elizabeth foi então enviada para a casa de seus avós paternos, para preservar sua saúde. Ela foi a única de sua família que permaneceu livre da difteria. No fim da epidemia, ela retornou para sua casa, e descreveu a experiência como uma sensação terrivelmente triste, como se tudo fosse apenas um "sonho horrível".
Beleza admirável
Dona de uma personalidade cativante e de uma grande inteligência, Elizabeth é descrita por muitos historiadores como a mulher "mais bonita da Europa" em sua época. Ela conquistou o coração de vários dos homens mais poderosos de sua época. Um deles foi o Imperador alemão William II, que se tornou apaixonado por ela e chegou a escrever diversas cartas e poemas para Elizabeth. Ela educadamente recusou suas tentativas, e, em consequência disso, William interrompeu seus estudos e voltou para a Prússia. Lord Charles Montagu, Henry Wilson e Frederick II foram outros de vários de seus admiradores declarados e secretos. Seu cunhado, o grão-duque Konstantin Konstantinovich escreveu-lhe um poema registrando a admiração do povo na chegada de Elizabeth, em sua primeira visita à Rússia. O príncipe Felix Yussupov a considerou como sua "segunda mãe", por tê-lo ajudado durante os momentos mais difíceis de sua vida. O embaixador francês na Rússia, Maurice Paleologue, escreveu em suas memórias que Elizabeth era capaz de provocar "paixões profanas".
Elizabeth e seu marido, Sergei Alexandrovich. |
Paixão e amor
De todos os grandes homens que se apaixonaram por Elizabeth, ela se apaixonou apenas por um: Sergei, filho da imperatriz Maria Alexandrovna da Rússia. Sergei, um jovem sério e extremamente religioso, muito culto, conquistou o coração da jovem monarca. Após a morte dos pais de Sergei, Elizabeth começou a enxergá-lo de forma diferente, tendo mais apreço pelo jovem príncipe. Elizabeth se identificou com seu amado: ambos perderam seus pais cedo, ambos eram bem religiosos, artistas e intelectuais. Os mesmos problemas, as mesmas forças. Entretanto, apesar dessa atração mútua, Elizabeth recusou o primeiro pedido de casamento de Sergei. Só na segunda ocasião ela disse "sim", e os dois se casaram em 15 de Junho de 1884, na capela do Palácio de Inverno, em São Petersburgo. Ela tornou-se então grã-duquesa e recebeu o sobrenome Feodorovna. Elizabeth causou uma grande e positiva impressão na família de seu marido. Isso pode significar muita coisa, já que russos não gostam de qualquer pessoa sem uma boa razão. O casal foi morar no palácio de Beloselsky-Belozersky.
Vida familiar
Sergei tornou-se governador general de Moscou, apontado por seu irmão mais velho, o tzar Alexander III. Agora, o casal estava morando em um dos palácios do Kremlin. Elizabeth e Sergei nunca chegaram a ter filhos, mas organizavam festas para diversas crianças. O casal ajudou a cuidar também do pequeno grão duque Dmitri Pavlovich e da pequena grã duquesa Maria Pavlovna, sobrinhos de Sergei. Elizabeth era originalmente adepta do luteranismo, e nunca lhe foi exigido converter-se à religião ortodoxa russa. Mas, voluntariamente, ela se converteu em 1891. No casamento de Nicolau II, o último czar da Rússia, com sua irmã mais nova Alix, ela foi instrumentista. Assim como sua irmã, Alix apenas aceitou a proposta de casamento de Nicolau quando ele a fez pela segunda vez.
Elizabeth e Sergei. |
Parda e dor
As ações políticas de Sergei não foram tão românticas. O grão duque expulsou aproximadamente 20.000 judeus de Moscou, dando seguimento à política anti semita dos tzares russos. Em 18 de Novembro de 1905, Sergei foi assassinado por um revolucionário socialista chamado Ivan Kalyavey. Elizabeth tornou-se profundamente triste e melancólica com a perda de seu marido.
Elizabeth teria todos os motivos para condenar o assassino de seu marido. Mas sua atitude surpreendeu a todos: ela não só perdoou publicamente a Kalayavey como inscreveu na lápide de seu marido os dizeres "PAI, PERDOAI-LHES, POIS NÃO SABEM O QUE FAZEM". Elizabeth nunca mais se casou, e devotou sua vida ao serviço para os mais necessitados. Ela tornou-se vegetariana e passou a vestir roupas simples. Em 1909, ela vendeu suas jóias e suas propriedades luxuosas, incluindo seu anel de casamento, e com o dinheiro fundou o convento de Santa Marta e Santa Maria. Ela também fundou um hospital, uma capela, uma farmácia popular e um orfanato. Elizabeth e suas freiras trabalharam intensamente com os necessitados de Moscou.
Prisão
Em 1917 a Revolução Bolchevique, bem sucedida, depõe a última família imperial da Rússia. Muitos membros da realeza são mortos, outros são presos e mantidos sob custódia. No ano de 1918, Vladimir Lênin ordenou à Cheka ("Comissão de Emergência Soviética", uma espécie de polícia especial comunista) que prendesse Elizabeth e outros membros da família real. Ela foi levada juntamente com o grão-duque Sergei Mikhailovich Romanov, a princesa Ioann Konstantinovich, Konstantin Konstantinovich, Vladimir Pavlovich, Igor Konstantinovich, Feodor Rmez e Varvara Yakovleva (uma das irmãs do convento fundado por Elizabeth). Eles foram levados para a cidade de Alapaevsk em 20 de Maio de 1918, mantidos em prisão na escola de Napolnaya. No dia 17 de Julho do mesmo ano, alguns oficiais da Cheka e outros comunistas roubaram o que restava dos objetos pessoais dos prisioneiros. Naquela mesma noite, anunciaram aos cativos que eles seriam transferidos à fábrica de Siniachikhensky. Os guardas do Exército Vermelho foram substituídos por oficiais da Cheka para "cuidar" dos prisioneiros.
Elizabeth, vestida como freira. Após a morte do marido, ela dedicou o resto de sua vida aos mais necessitados. |
Naquela mesma noite, Elizabeth e os outros prisioneiros foram acordados e levados para o vilarejo de Siniachikha, em carros, rumo a uma mina abandonada de aproximadamente 20 metros de profundidade. Elizabeth e os demais prisioneiros foram retirados dos veículos, e, após serem espancados, foram jogados mina abaixo. Os soldados lançaram uma granada no buraco, e apenas Feodor Remez morreu na explosão. Depois, jogaram mais granadas, mas apenas ouviam os prisioneiros cantando um hino ortodoxo. Os executores, liderados por Vassili Ryabov, desistiram de matar os prisioneiros, apenas escondendo a entrada da mina com galhos e deixando guardas no lugar. Elizabeth provavelmente morreu dias depois, por conta dos ferimentos das explosões, junto com os outros presos. A data de sua mote é inexata. Em 18 de Julho de 1918, Abramov, um dos líderes da Cheka, fez um comunicado oficial com telegramas dizendo que "a escola de Napolnaya havia sido atacada por gangues não identificadas", e que os prisioneiros teriam sido mortos por conta desse ataque. Elizabeth foi canonizada pela Igreja Ortodoxa Russa Fora da Rússia, em reconhecimento por sua vida de devoção. Podemos considerá-la como uma aristocrata de espírito humilde, uma mulher devotada à família e aos mais necessitados. Elizabeth é uma das vítimas da triste e obscura parte da Revolução Socialista de 1917 e a figura da união da nobreza europeia em uma só pessoa. Elizabeth foi um pouco da Alemanha e da Inglaterra dentro da Rússia.
Barbárie...lamentável...essa foi uma vítima inocente da brutalidade humana.
ResponderExcluirE mais uma missão se concretiza
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