Roman Nikolai Fyodorovich von Ungern-Sternberg |
Um
comandante militar anticomunista nacionalista; um visionário eurasiático e um
místico orientalista. Poucos devem ter ouvido falar de Ungern-Sternberg, mas
com certeza muitos sabem algo sobre o “Barão Louco”. Gênio militar do início da
era soviética, Ungern representou visões aparentemente contraditórias dentro de
uma mesma personalidade. Participou da guerra contra os japoneses, serviu na
Primeira Guerra Mundial, liderou tropas cristãs contra os turcos otomanos,
ajudou no processo de independência da Mongólia e lutou contra os
revolucionários socialistas russos.
Nascido protestante de uma família luterana, batizado
Roman Nikolai Fyodorovich von Ungern-Sternberg, nascido em 29 de Dezembro de
1885 na cidade de Graz, na Áustria, filho de Sophie Charlotte von
Ungern-Sternberg e Theodor Leonhard Rudolph von Ungern-Sternberg, desde cedo o
garoto seria instruído para a vida militar. Mudou-se com seus pais para Reval,
na Estônia, em 1888, e seus pais se divorciaram em 1891. Sophie casou-se com
Oskar Anselm Hermann von Hoyningen-Huene.
Educação militar
Aos
17 anos, Nikolai frequentou a escola ginasial Nicholas I, na cidade de Tallinn.
Aos 18 anos, ele entrou para a Escola de Cadetes e Oficiais da Marinha, em São
Petersburgo, então capital do Império Russo. Aos 20 anos juntou-se à frente oriental
na guerra russo-japonesa, atuando em operações na Manchúria. Ele foi
transferido em 1906 para servir na Escola Militar Pavlovskoe, em São
Petersburgo. Naquele ano, ganhou o posto de cadete. Foi promovido ao posto de
oficial após sua graduação, servindo na Sibéria no 1º Regimento Cossaco de
Amursky.
Nikolai ainda jovem, durante seus anos de instrução na Escola Militar Pavlovskoe, em São Petersburgo. |
O encanto nômade
Durante
seu serviço na Sibéria oriental, Nikolai se atraiu pelo estilo de vida nômade
dos mongóis. Ele mesmo adotou vários dos costumes tradicionais desse povo. Em
1913, ele começou a auxiliar os mongóis em sua luta pela independência do país,
na época dominado pela China. Na cidade mongol de Khovd, ele serviu como
oficial cossaco no consulado russo.
O Barão Louco
Com
a explosão da Primeira Guerra Mundial, Nikolai foi enviado para a linha de
frente em 19 de Julho de 1914, participando do 34º Regimento de Cossacos no
front da Áustria. De 1915 a 1916 ele participou de diversos ataques pela
Cavalaria Especial de L. N. Punin. Foi durante a grande guerra que Nikolai
ganhou a fama de intrépido e destemido, e também de louco, dado o caráter
muitas vezes imprudente e inconsequente de suas ações. Ganhou diversas
condecorações ao fim da guerra, mas foi removido de seu posto por “falhar na
obediência às ordens”.
Nômades mongóis. Grande parte da vida de Nikolai foi ao lado de povos nômades. Ele absorveu grande parte da cultura destes povos, adotando costumes variados deles. |
Cristãos contra
turcos
Em
1917, Ungern foi transferido para o Cáucaso, na guerra contra a Turquia. Em
Abril do mesmo ano, ele e Grigory Semyonov organizaram um exército de soldados
cristãos siríacos voluntários contra os turcos, que obtiveram diversas
vitórias. Mas estas vitórias não influenciaram a guerra de modo decisivo.
Contra os
Bolcheviques
Após
a Revolução Bolchevique de Outubro de 1917, Ungern e Semyonov manifestaram-se
fiéis à família dos Romanov e contrários aos revolucionários. Semyonov nomeou
Ungern como governador da Dauria, uma área extensa no sudoeste do lago Baikal.
Nikolai e Semyonov eram fanaticamente anti bolchevistas, mas não se uniram ao
Exército Branco, já que eles não reconheciam a autoridade de Aleksandr Kolchak,
o líder dos soldados Brancos na Sibéria. Os dois comandantes agiram de forma
autônoma contra os bolcheviques.
Alguns dos homens das divisões criadas por Nikolai. |
Brancos e Vermelhos
Durante
essa época, Nikolai Ungern tornou-se famoso por seu comportamento tipicamente
excêntrico e nada convencional, o que lhe valeu o apelido de “Barão Louco”. Ele
e Semyonov receberam apoio dos japoneses, com dinheiro e armas. Entretanto,
eles eram vistos pelos líderes do Exército Branco como traidores,
principalmente por Denikin e Kolchak, partidários de um movimento único contra
os vermelhos. Desse modo, Nikolai tornou-se
inimigo tanto de vermelhos quanto dos brancos.
Líder das nações
Várias
operações militares bem sucedidas foram conduzidas em Dauria e em Hailar, o que
garantiu a Nikolai Ungern o posto de major-general. Semyonov o nomeou como comandante da estação
de trem de Dauria e lhe confiou unidades militares para lutar contra as forças
bolcheviques. Nikolai criou a Divisão de Cavalaria Asiática (Азиатская конная
дивизия), formada por soldados voluntários.
A divisão criada por Nikolai era composta de várias nacionalidades e
etnias, como russos, buryats, bashkirs, mongóis, chineses, japoneses, poloneses
exilados, manchus e tártaros, e muitos outros.
A Divisão Selvagem
A
divisão de Nikolai logo foi chamada de “Divisão Selvagem”, formada
principalmente por soldados de povos nômades de regiões montanhosas. Grande
parte desses soldados era formada por veteranos que lutaram na Primeira Guerra
e, agora, lutavam contra os bolcheviques. Nikolai construiu uma fortaleza em
Dauria, de onde lançava expedições contra os revolucionários. As tropas de
Nikolai realizavam saques para obter suprimentos. Diversos trens que passavam
na região entre a Manchúria e Dauria eram atacados por ele e seus homens.
Divisão da Cavalaria Asiática comandada por Nikolai. |
Reconstruindo
impérios
Nikolai foi um fervoroso monarquista: acreditava
que este era o único sistema social que poderia impedir a corrupção e a
autodestruição da civilização ocidental. Desejava ao mesmo tempo reconstruir o
Império Russo e o Império Mongol. Nikolai traçou como objetivo refazer o
império mongol de Gêngis Khan, apoiando a dinastia Qing como portadora do
melhor candidato ao trono. Na época, a Mongólia estava sob a ocupação militar
de senhores da guerra chineses pró-japoneses, liderados por Xu Shuzheng. Nikolai começou então a apoiar o retorno do
Bogd Khan (imperador), o 8º Bogd Gegen, o jovem Jebtsundamba Khuruktu ao trono da Mongólia.
O líder
dos rejeitados
Os japoneses haviam apoiado os senhores da guerra
chineses na ocupação da Mongólia em ordem de prevenir o país contra possíveis
revoluções oriundas dos Bolcheviques da Rússia, que poderiam estender o poder à
região e ao Norte da China. Porém, após o fim do financiamento japonês, as
tropas chinesas na região ficaram abandonadas. Como resultado, muitos dos
soldados se revoltaram contra os comandantes. Muitos desses soldados eram
mongóis contratados pelos chineses, que eventualmente se uniram à divisão de
Nikolai.
Casando-se
com uma princesa
Nikolai encontrou apoio entre os monarquistas da
região, aliando-se com o senhor da guerra Zhang Zuolin, um general da
Manchúria. Nikolai se casou com a princesa Ji da Manchúria, em uma cerimônia
ortodoxa cristã. Ela recebeu o sobrenome Ungern-Sternberg. O casamento teve
grande significado político, pois a princesa Ji era parente do general Zhang
Kuiwu, comandante das tropas chinesas na Manchúria e governador de Hailar.
O retorno
do Bogd Khan
A Mongólia declarou sua independência em 13 de
Março de 1921. Nikolai foi declarado como ditador, mas o poder estava
oficialmente nas mãos de Jebtsundamba Khuruktu, o Bogd Khan da Mongólia.
Jebtsundamba Khuruktu, o jovem 8º Bogd Gegen e Bogd Khan (imperador) da Mongólia. |
Reencarnação
de Gêngis Khan
Nikolai acreditava ser a própria reencarnação de
Gêngis Khan. Atraído pelas religiões e filosofias orientais, principalmente
pelo esoterismo budista, Nikolai era um nacionalista russo com crenças chinesas
e mongóis. Muitos mongóis o viram como a encarnação de Jamsaran, uma
divindade relativa à guerra, típica do folclore do Tibete. Muitos consideravam Nikolai como descendente de Átila, o Huno.
Limpeza
urbana e execuções
No governo da cidade de Urga, Nikolai impôs um
severo programa de urbanismo. A tumultuada região logo ganhou ordem, e Nikolai
promoveu uma política de limpeza pública, instalações sanitárias e promoção da
vida religiosa e da tolerância na capital, bem como algumas medidas de reforma econômica.
Entretanto, a política de Nikolai teve um caráter brutalmente antissemita,
chegando a executar 38 judeus em Urga. Provavelmente 16 nacionalidades serviram
nas divisões de Nikolai, incluindo tibetanos. Provavelmente, foram enviados
pelo 13º Dalai Lama, que manteve contato com Nikolai.
Os mongóis tornaram-se independentes da dinastia Qin chinesa. Nikolai teve papel decisivo na Revolução Mongol. |
A
Transbaikalia
Ainda em 1917, os bolcheviques começaram a
adentrar a Mongólia, após tomarem a região russa da Transbaikalia. Em 1921,
várias divisões do Exército Vermelho invadiram a recém-independente monarquia. Damdin
Sijkhbaatar, líder militar mongol pró-bolcheviques, foi um dos comandantes
dessas unidades.
Traição
Diversos espiões e traidores foram enviados para
disseminar a divisão entre as tropas de Nikolai. Ele organizou expedições
contra essas pequenas forças na Sibéria, e ofereceu apoio a movimentos
revoltosos anti-bolcheviques na região. Alguns camponeses se uniram às tropas
de Nikolai com sua chegada.
Nikolai e
Rezukhin
Duas divisões foram criadas, uma sob o comando de
Nikolai, e outra sob as ordens do major-general Rezukhin. Rezukhin atacou os
vermelhos ao longo da parte russa do rio Selenge. Nikolai deixou Urga e se
moveu para a cidade russa de Troitskosavsk. Os vermelhos tinham superioridade
em número de tropas, reservas humanas, equipamentos militares (como veículos,
aviões e barcos), munição e armas. Entre 11 e 13 de Julho, Nikolai foi
derrotado nas batalhas contra os vermelhos e não conseguiu tomar a cidade de
Troitskosavsk. Após pequenas lutas, os soviéticos tomaram a cidade de Urga em 6
de Julho de 1921.
Invadindo
a URSS
Nikolai reagrupou suas tropas e tentou invadir a
região da Transbaikalia. Nikolai tentou conseguir apoio de Semyonov e dos
japoneses, mas esse apoio nunca chegou. Em 18 de Julho, partiu com sua divisão
para dentro do território soviético, com aproximadamente 3000 homens. Nikolai
conseguiu capturar vários vilarejos, de Novoselenginsk até a região de
Verkhneudinsk. Entretanto, suas posições não poderiam ser mantidas contra as
tropas soviéticas superiores, e ele começou uma retirada para a Mongólia em 2
de Agosto de 1921. Primeiro tentou se dirigir para Tuva, depois, pensou em ir
para o Tibet.
Vivo e
capturado
Soldados traidores começaram planos para matar
seus comandantes. Rezukhin foi assassinado em 17 de Agosto de 1921, e no dia
seguinte tentaram matar Nikolai, sem sucesso. Nikolai perdeu o comando de suas
tropas, que começaram a debandar. Em 20 de Agosto ele foi capturado pelos
soviéticos, comandados por Shchetinkin.
“Vivi para
morrer”
Após um julgamento que durou apenas 6 horas e 15
minutos, conduzido por Yemelyan Yaroslavsky, Nikolai foi sentenciado à
execução. Naquele mesmo dia ele foi fuzilado, na cidade de Novonikolaevsk.
Quando soube da morte dele, o Bogd Khan mongol ordenou que o povo rezasse por
sua alma por toda a Mongólia.
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