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Marco Histórico
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https://psicologianicsaude.files.wordpress.com/2013/04/02.png
Fotos tiradas do ambiente interno do Hospital Colônia de Barbacena. Estima-se que entre 1930 a 1980 cerca de 60.000 pessoas morreram na instituição.

Certos capítulos da História nacional são praticamente desconhecidos. A palavra "genocídio" nos remete sempre a crimes estrangeiros, mas poucos de nós sabemos dos atos bárbaros cometidos no Brasil. Houve um verdadeiro genocídio brasileiro, um genocídio silencioso, quieto e misterioso, e esse genocídio é tema do artigo deste final de semana.

O Hospital Colônia
http://www.ccs.saude.gov.br/vpc/images/barbacena03.jpg
Foto da fachada do Hospital Colônia de Barbacena. Por trás desta bela arquitetura se escondiam terríveis torturas.

Criado pelo governo estadual de Minas Gerais em 1903, o Hospital Colônia, localizado na pequena cidade de Barbacena, inicialmente tinha como objetivo o tratamento de pacientes com tuberculose. Posteriormente, passou a servir como local de recolhimento de pessoas com problemas e distúrbios mentais. Com duzentos leitos inicialmente, atingiu a marca de cinco mil internos em 1961. O hospital, em sua época, era um dos maiores hospícios do país.

Hospício para normais
Estima-se que cerca de 70% daqueles que foram internados no Hospital Colônia não possuíam qualquer tipo de transtorno mental. O local servia para uma espécie de "eugenia" brasileira, onde alcoólatras, prostitutas, homossexuais, idosos, adolescentes grávidas, mendigos e outros tipos de pessoas eram submetidos a uma verdadeira prisão.

Masmorra e sofrimento
http://lounge.obviousmag.org/folhetim/assets_c/2013/10/colonia5-thumb-600x376-49391.jpg
Os internos dormiam em colchões forrados com feno ou capim, submetidos a diversas torturas.
Adotando medidas pseudo terapêuticas típicas do século XVIII, os "tratamentos" consistiam em castigos físicos, tortura, privação de sono e de comida, reclusão total e diversos atos de violência física e psicológica. Estimativas apontam que cerca de 60.000 pessoas morreram apenas durante 1930 e 1980. Este número pode ser bem maior, se avaliarmos a data de abertura do "hospital". 

Comércio de corpos e órgãos
Os mortos eram vendidos para diversas faculdades do país. Aqueles que morrem declarados como indigentes podem ser utilizados para estudos de anatomia e química, por exemplo. E, como a maioria dos internos não tinha qualquer parente ou quem zelasse por eles, eram registrados como indigentes. O "comércio" tornou-se uma fonte de lucros para as diversas administrações do local. Até 1980, estima-se que 1.853 corpos foram comercializados com cerca de 17 centros acadêmicos diferentes, além de órgãos e ossos. Um montante de R$600.000,00 é estimado como tendo sido oriundo dessa movimentação.

Presos políticos
Durante os governos militares, o local foi usado como depósito para presos políticos. Muitos dos supostos envolvidos com atividades subversivas foram diagnosticados como loucos e enviados para o hospício em Barbacena. Estas pessoas obviamente não eram doentes mentais, mas sim, perseguidos políticos. O hospício serviu como uma espécie de prisão não declarada para os opositores dos regimes militares.

Transporte
Os internos chegavam ao local via trem, geralmente transportados no último vagão, que era solto e alocado aos fundos do hospício. O vagão ganhou o apelido de "trem de doido" pelos mineiros. A viagem era sem volta: a maior parte dos internos jamais recebia alta.

http://ulbra-to.br/encena/uploads/holocausto-2.jpg
Muitos dos internos eram presos políticos do regime militar.
Depoimento
Raramente visitantes externos iam até o local. Um destes visitantes foi o doutor Wellerson Durães de Alkmin, de 59 anos, membro da Escola Brasileira de Psicanálise e da Associação Mundial de Psicanálise. Ele visitou o local em 1975, e relata sua experiência com as seguintes palavras: ""Eu era estudante do Hospital de Neuropsiquiatria Infantil, em Belo Horizonte, quando fui fazer uma visita à Colônia 'Zoológica' de Barbacena. Tinha 23 anos e foi um grande choque encontrar, no meio daquelas pessoas, uma menina de 12 anos atendida no Hospital de Neuropsiquiatria Infantil. Ela estava lá numa cela, e o que me separava dela não eram somente grades. O frio daquele maio cortava sua pele sem agasalho. A metáfora que tenho sobre aquele dia é daqueles ônibus escolares que foram fazer uma visita ao zoológico, só que não era tão divertido, e nem a gente era tão criança assim. Fiquei muito impactado e, na volta, chorei diante do que vi."

Lições e Sequelas

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Foto de internos do Hospital Colônia, amontoados em um pátio.
O tratamento dispensado no Hospital Colônia de Barbacena é reflexo do modelo europeu baseado nos ideais de Eugenia ("limpeza social"), aplicados especialmente durante o século XIX e a primeira metade do século XX, tendo sido ainda utilizado em escalas menores após esse período. A política brasileira de tratamento psiquiátrico demonstrou ser mais uma ação ideológica, política e comercial do que humana. Os hospícios no Brasil são historicamente lugares de reclusão, e não de tratamento. Os pacientes considerados "normais" já são submetidos a um tratamento desumano nos hospitais, logo, podemos imaginar em que condições são submetidos os pacientes com alterações mentais. Barbacena ficou conhecida como a "cidade dos loucos", e o estigma dos doentes mentais não é algo que terminou com o fechamento do Hospital Colônia. Até os dias atuais, são frequentes os relatos de maus tratos e barbaridades cometidas contra pessoas sem voz e sem consciência, nos locais mais remotos do Brasil. Estas prisões se escondem sob o nome de instituições terapêuticas, mas elas mesmas fazem parte da enorme doença que é muito pior do que aquelas mentais: a doença moral que acomete nossa medicina atual. Infelizmente, ainda existem inúmeras instituições que atuam como o Hospital Colônia atuou.


Referências:
Sobre o caso, vale a pena ler o livro "Holocausto Brasileiro", da jornalista Daniela Arbex.

Um dos terroristas do Setembro Negro, na sacada do prédio onde estavam os atletas israelenses em Munique.
O ano de 1972 entrou para a História por conta da maior catástrofe terrorista em jogos olímpicos. As Olimpíadas de Munique, na Alemanha Ocidental, seriam palco para o mais marcante ataque terrorista da organização extremista pró Palestina chamada Setembro Negro. Os resultados desse ataque desencadearam uma série de retaliações por parte do governo israelense, o que fez eclodir vários outros ataques terroristas não apenas do Setembro Negro, mas de vários outros grupos.

As Olimpíadas de 1972
Os Jogos Olímpicos de Munique, em 1972, foram os primeiros jogos olímpicos realizados na Alemanha desde o fim do regime Nazista. A participação da delegação olímpica israelense tinha um duplo significado: o primeiro, político e ideológico, como uma amostra da recuperação pós Nazismo, elevando a moral israelense; o segundo, a reaproximação entre Alemanha e Israel. Estas Olimpíadas, inicialmente, tinham como objetivo publicitário promover a cultura de paz.

Setembro Negro
Militantes palestinos Fedayin. Vários destes militantes participariam do Setembro Negro.
Chamado em Árabe de Munaẓẓamat Aylūl al-Aswad (na escrita original, منظمة أيلول الأسود ), o grupo terrorista Setembro Negro era composto por membros da organização Fatah. Criado em 1970, era um braço da OLP (Organização para a Libertação da Palestina) na luta contra o exército da Jordânia, em retaliação às ações do rei jordaniano Hussein contra a tentativa de golpe de estado dos Fedayin, militantes palestinos, deportando milhares de palestinos em conflitos que causaram cerca de 10.000 mortes. O Setembro Negro foi formado por militantes do Fatah e da As-Sa'iqa.

Os maiores atentados do Setembro
Os principais atos terroristas do grupo foram: o sequestro e assassinato de 11 atletas israelenses durante os Jogos Olímpicos de Munique, em 1972; a tentativa de matar o embaixador da Jordânia em Londres, em 1971; a sabotagem de uma usina elétrica na Alemanha Ocidental e uma fábrica de gás na Holandesa em 1972; o sequestro de um avião belga com destino a Tel Aviv também em 1972 e o atentado à embaixada saudita no Sudão em 1973, causando a morte de três diplomatas, dois norte-americanos e um belga.

Recusa da OLP
Após diversos atentados, a própria Organização pela Libertação da Palestina desmantelou o Setembro Negro, acusando-os de prejudicar a causa palestina trazendo uma imagem negativa aos militantes dos demais grupos ligados à causa. Entretanto, o grupo continuou agindo e permanece ativo até hoje, listado como uma organização terrorista pela lista oficial da União Europeia.

Massacre de Munique 
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Caixões dos atletas israelenses mortos, em procissão para seu enterro.
 Em 5 de Setembro de 1972, às 4 da manhã, oito membros invadiram o dormitório da delegação israelense. No ato da invasão, dois atletas foram mortos, após ferir alguns terroristas e nocautear um deles. Nove atletas foram tomados como reféns. Os terroristas exigiam a libertação de vários prisioneiros palestinos por parte do governo de Israel. As autoridades israelenses negaram o pedido, e, como resultado, o ato terminou de forma trágica: cinco dos oito terroristas foram mortos, todos os nove reféns israelenses morreram e um policial alemão foi morto. Os outros três terroristas que sobreviveram e foram presos acabaram sendo soltos depois, por conta de um sequestro em um voo alemão, em troca da libertação dos reféns. 

Mortos 
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Atletas israelenses mortos no atentado.

Os atletas da delegação israelense mortos foram: Moshe Weinberg e Yossef Romano (mortos ao reagir à invasão); Ze'ev Friedma, David Berger, Yakov Springer, Eliezer Halfin, Yossef Gutfreund, Kehat Shorr, Mark Slavin, Andre Spitzer e Amitzur Shapira (mortos por granadas atiradas pelos terroristas). O policial alemão morto chamava-se Anton Fliegerbauer. Os terroristas mortos chamavam-se Luttif Afif, Yusuf Nazzal, Afif Ahmed Hamid, Khalid Jamal e Ahmed Chic Thaa.

Resposta de Israel
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Golda Meir, primeira ministra israelense da época.
Após o atentado de Munique, as autoridades alemãs criaram a unidade policial especial anti terrorismo chamada GSG - 9 (GSG 9 der Bundespolizei),israelenses tomaram algumas medidas de reação. A primeira ministra israelense da época, Golda Meir, iniciou a operação Cólera de Deus (Wrath of God), onde agentes ligados não oficialmente ao Mossad realizaram operações secretas resultando na morte de diversos líderes da OLP e de grupos ligados ao ataque do Setembro Negro. Por sua vez, tais operações despertaram ainda mais extremismo terrorista, com novos atentados sendo realizados. Dois dos três terroristas foram mortos, nessas operações. O terceiro, Mohammed Oudeh, sobreviveu a um atentado contra sua vida, mas morreu em 3 de Julho de 2010 em Damasco, por falência renal.

Lições e Desafios
Não somente o atentado de Munique, mas todos os outros, sendo executados por grupos paramilitares ou pelas próprias potências mundiais, demonstram o despreparo das relações internacionais cada vez mais evidente. A capacidade diplomática e a resolução pacífica de conflitos torna-se cada vez mais rara e somente uma bonita teoria, enquanto a prática é o derramamento de sangue. Os eternos conflitos entre israelenses e palestinos possuem ramificações milenares e muito complexas, mas certamente a maior culpada pela atual situação é a ONU, que não cumpriu as promessas de criar um Estado para os palestinos e delimitar as fronteiras desse Estado. Sem um Estado reconhecido, a situação palestina se deteriora, causando ataques extremistas, o que incita retaliações violentas de Israel, que, por sua vez, causam ataques ainda piores, formando um círculo que parece interminável. O terrorismo afeta cada um de nós, e deve ser tratado de forma séria e madura, não sendo uma mera questão de extremistas árabes, mas produto da conivência e do apoio das próprias potências que se dizem anti terroristas.


Referências:
About.com

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Típico carrinho de sorvetes, um símbolo atual da cultura norte-americana.

Em dias de extremo calor, poucas coisas são tão refrescantes quanto tomar um delicioso sorvete. Seja em um carrinho, uma barraquinha ou em uma sorveteria, podemos escolher dezenas de sabores e fazer inúmeras combinações. Basta pedir o sabor favorito e pagar com algumas moedas. Isso parece fácil, mas nem imaginamos que, até se transformar na deliciosa sobremesa que temos hoje, o sorvete passou por um processo milenar de aprimoramento.

O rei Salomão se refresca
Não existe uma data específica para a invenção do sorvete. Mas acredita-se que esteja em algum ponto do século II a.C. Referências bíblicas registram que o rei hebreu Salomão consumia uma espécie de "bebida gelada". Na época, não havia qualquer tipo de meio para gelar algo, a não ser o uso do próprio gelo, e podemos concluir que para adquirir sabor, certas frutas eram acrescentadas aos cubos de gelo.

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Busto de Alexandre o Grande
Alexandre, o Sorveteiro
Alexandre, o Grande, um dos mais jovens conquistadores do mundo, segundo vários registros históricos apreciava um tipo de sobremesa feita de raspas de gelo misturadas com mel ou néctar, ou os dois elementos juntos. Essa mistura gelada e doce provavelmente fez muito sucesso durante as expedições pela Pérsia, em locais extremamente quentes.

Nero: incêndios e gelo
O imperador Nero, famoso por ter supostamente ateado fogo na cidade de Roma e culpado falsamente os cristãos pelo ato, não tinha obsessão apenas com fogo e incêndios: ele também apreciava um tipo de sobremesa parecida com o sorvete. Ele enviava corredores para pegar neve das montanhas, à qual ele misturava sucos de frutas e polpas, dando o sabor especial à bebida.

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Marco Polo
Marco Polo e o sorvete
Marco Polo, o mais famoso dos navegadores europeus, que viveu de 1254 a 1324 de nossa era, realizou uma viagem ao extremo oriente. De lá, ele trouxe um tipo de sobremesa árabe chamada sherbet, que é muito parecida com o sorvete como hoje o conhecemos. Por volta do século XVI essa sobremesa foi aprimorada na Itália, que hoje é conhecida também como a nação do sorvete.

Charles I e o Creme de Gelo
No século XVII, o rei Charles I da Inglaterra tomava uma sobremesa chamada de "cream ice", ou, em nossa língua, creme de gelo. Levaria um bom tempo até que esse nome fosse invertido para "ice cream", como é atualmente chamada essa sobremesa nos países de língua inglesa.

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Catarina de Médici
França, Itália e um casamento refrescante


Em 1553, uma sobremesa similar ao sorvete foi levada aos franceses pela rainha italiana Catarina de Medici, quando ela se casou com o rei Henry II da França. Até o ano de 1660, quando a sobremesa foi distribuída aos plebeus, essa iguaria era um luxo reservado apenas à alta aristocracia.

Agora, com leite
O mercador siciliano Procopio acrescentou leite, creme, manteiga e ovos ao gelo, formando uma sobremesa que ele serviu em seu estabelecimento chamado Café Procope, o primeiro café de Paris. Esses novos ingredientes deram cremosidade à sobremesa, tornando-a mais parecida com o sorvete atual.

A nova sobremesa no Novo Mundo

Os primeiros registros do sorvete nas colônias das Américas datam de 1744, em uma carta escrita pelo governador de Maryland, William Bladen. O primeiro anúncio de venda de sorvete foi publicado em 2 de Maio de 1777 no jornal New York Gazette, divulgado pelo confeiteiro Philip Lenzi, dizendo que o "sorvete estava disponível quase todos os dias" em seu estabelecimento. Registros do ano de 1790 relatam que o presidente Thomas Jefferson, um dos pais fundadores dos EUA, gastou cerca de U$200,00 com sorvete somente no verão daquele ano. Essa quantia, para a época, era praticamente uma fortuna. Em 1813, uma sobremesa de sorvetes refinados foi servida para o presidente Madison.

A indústria do sorvete
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A carroça utilizada por Jacob nos EUA para vender sorvetes nas casas.
Por volta do ano de 1800, a produção de sorvete tornou-se uma indústria norte-americana. Em 1851, um sorveteiro chamado Jacob Fussell começou a fabricar sorvete em larga escala. Podemos considerá-lo como o primeiro sorveteiro a entregar  As inovações tecnológicas ampliaram o volume de sorvete produzido, bem como a consistência, cremosidade e a diversidade de sabores e combinações. Hoje, o sorvete é um dos doces mais populares em quase todos os países do mundo. Somente os Estados Unidos fabricam, anualmente, 1.6 bilhões de galões do produto.
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Crianças comprando sorvete em um típico carrinho.

Referências:
International Dairy Foods Association
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Chineses consumindo a droga que seria responsável por uma verdadeira devastação em seu país.

O que acontece quando um império combalido decreta leis proibindo a comercialização da droga mais devastadora já experimentada até então, contrariando os interesses das grandes empresas da maior potência mundial da época, o Império Britânico? Simples: guerras e mais guerras. Por essa (e outras) motivações, as Guerras do Ópio tiveram lugar no território do dragão adormecido.


O dragão fumante
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O ópio foi a droga mais viciante e lucrativa dos séculos XVIII e XIX.
As indústrias crescentes da Europa já estavam praticamente esgotando os mercados locais. A solução para todo o mercado saturado é a expansão. Desse modo, a exploração nas colônias da América aumentou, bem como a colonização da África. Agora, era ora também de estender as mãos no continente asiático. O Japão, cada vez mais "ocidentalizado", ainda consegue se manter ao menos a salvo dos mercados europeus. Mas a China, um grande dragão adormecido, um império já muito desgastado, se tornou presa fácil para os empreendimentos do Ocidente. E os mercados europeus desejavam o lucro, mesmo que ele fosse obtido através do comércio de drogas altamente viciantes. Foi assim que a droga mais viciante da época encontrou amplo mercado, especialmente frente a uma população miserável que encontrava nos efeitos da planta uma calma para seus próprios problemas sociais. A droga rapidamente se espalhou e viciou grande parte dos chineses

O ópio
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Mulher chinesa anestesiada pelos efeitos do ópio.
Droga extraída de uma planta chamada cientificamente de Papaver somniferum, popularmente conhecida como papoula. A droga é produzida através de um suco retirado da planta, que é transformado em um pasta que pode ser utilizada para o fumo. É uma das drogas mais viciantes que existem, e seus efeitos mais comuns estão associados ao sistema nervoso humano, proporcionando sensações como extremo relaxamento, sono e anestesia. Alguns componentes da droga, corretamente ministrados, servem como sedativos naturais, sem maiores efeitos danosos no organismo. Essa substância causa depressão no sistema nervoso central, diminuindo seu funcionamento e causando uma hipnose analgésica, especialmente em grandes concentrações.

Proibições chinesas
Por conta dos efeitos devastadores causados na sociedade chinesa que, por conta da droga havia praticamente estabelecido todo um crime organizado em seu redor, desde o tráfico feito pelos britânicos até sua disseminação por toda a China, a violência, aumento do número de mortes e dos mais diversos problemas sociais, o governo chinês colocou a droga na ilegalidade no ano de 1839. As autoridades chinesas confiscaram enormes quantidades de ópio, especialmente no porto de Cantão (Guangzhou), além de eventualmente prender alguns oficiais e tripulantes de navios britânicos que carregavam a droga.

A Primeira Guerra do Ópio
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Ilustração moderna, retratando uma batalha
entre britânicos e chineses.
Os britânicos, interessados em pressionar os chineses para a total abertura econômica, enviaram diversos navios de guerra para atacar os principais portos chineses. Essa foi a resposta em relação às diversas sanções chinesas contra o comércio da droga. As forças militares da terra da seda não foram capazes de fazer frente aos exércitos britânicos, mais bem equipados e modernizados. Assim, teve início a Primeira Guerra do Ópio, que durou de 1839 a 1842. O resultado foi negativo para os chineses, que foram obrigados a assinar um tratado de rendição em Nanjing, no ano de 1842, e um tratado comercial suplementar, em Bogue, no ano de 1843. Assim, o país estava novamente aberto para ser explorado pela droga viciante.

A Segunda Guerra do Ópio
Sem motivações fortes como a primeira guerra, a Segunda Guerra do Ópio, que durou de 1856 a 1860, foi motivada por um evento um tanto quanto controverso. Os ingleses disseram que as autoridades chinesas haviam ilegalmente revistado um navio britânico batizado de Arrow, no porto de Guangzhou. Dessa vez, ingleses e franceses invadiram a China e tomaram os portos de Guangzhou e Tianjin. Os chineses foram forçados a assinar novos tratados comerciais em 1858, abrindo os mercados para a França, a Rússia, o Império Britânico e os Estados Unidos da América. A China ficava cada vez mais nas mãos estrangeiras. Onze outros portos chineses foram abertos, comitivas missionárias cristãs foram permitidas e o comércio de ópio foi oficialmente legalizado.

Últimas tentativas do dragão
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Caricatura mostrando as potências
dividindo a China.
O governo chinês ainda tentou reagir. Em 1859, tentou impedir a presença de diplomatas e embaixadores ocidentais em Beijing. Como resposta, os britânicos forçaram novas leis e tratados comerciais, invadiram a capital e queimaram um dos maiores símbolos culturais do Oriente, queimando o Palácio Imperial de Verão, chamado de Yuan Ming Yuan. Em 1860, a China foi novamente forçada a reforçar os termos do Tratado de Tianjin e realizar concessões adicionais. Assim, uma situação insustentável se mostrava latente diante do governo e do povo chinês: a incapacidade de uma grande nação se defender contra as interferências estrangeiras e o fato de que, quanto mais as autoridades chinesas tentavam impedir a expansão da droga e a dominação colonialista ocidental, mais sofriam com as retaliações militares dessas potências e, como consequência, mais eram obrigados a abrir seus portos para a entrada não só desta substância, mas para todo o tipo de mercadorias, sem receber, por isso, as devidas compensações.




O Império do Oriente sucumbe
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Chineses fumando ópio em Cantão.
A China ficou completamente refém das potências ocidentais estrangeiras. Terminava, assim, a soberania de um dos maiores e mais antigos impérios de toda a História. A população, rendida pelo comércio de uma droga devastadora e agora praticamente escravizada pelas companhias da Europa, não era mais dona de si mesma. As Guerras do Ópio são a demonstração histórica das ações predatórias de nações contra nações, e como a busca incessante pelo simples lucro pode lançar toda uma população à miséria e marginalidade. Levaria muito tempo para que a China se transformasse novamente em um país influente e poderoso, e, mesmo ainda hoje, é extremamente explorada por multinacionais que lançam a população local em um trabalho análogo ao escravo, tudo isso com a permissividade das próprias autoridades locais. Esse é um episódio histórico muito pouco conhecido, e ainda hoje torna-se evidente em seus efeitos, tanto nas guerras do Afeganistão (que levaram novamente os efeitos da distribuição do ópio, que havia sido proibido pelos radicais islâmicos do Talibã) quanto nas constantes guerras latino-americanas das FARC, na Colômbia. O tráfico de drogas não é um assunto novo, e as Guerras do Ópio demonstram isso claramente.




Referências:
Info Please
http://www.historiabrasileira.com/files/2010/02/revolucao-constitucionalista-1932.jpg
Insurgentes paulistas de 1932.


Getúlio Vargas governou o Brasil com mãos de ferro. Mas não governou sem oposição. O líder populista enfrentou duas grandes revoltas: a Intentona Comunista e a Revolta Tenentista. Vamos estudar sobre esta segunda, que mobilizou o estado mais industrializado do país e criou grandes enfrentamentos entre as próprias forças armadas.

O fim da República Velha
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/d6/Revolu%C3%A7%C3%A3o_de_1930_-_2.jpg
Ao centro, Getúlio Vargas, que toma o poder no Golpe de 1930.
A Revolução de 1930 foi um movimento militar resultante da união entre os estados de Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande do Sul. Dessa revolta surgiu um golpe de Estado, que retirou do poder o então presidente Washington Luís, em 24 de Outubro de 1930 e também impediu a eleição de Júlio Prestes. Até então, o governo do Brasil era basicamente uma alteração entre candidatos de São Paulo e de Minas Gerais, no que ficou conhecido como a "República do Café com Leite" (café por conta de São Paulo, e leite por conta de Minas). Mas em 1929 os paulistas romperam com essa aliança e promoveram o candidato Júlio Prestes. Em resposta, os mineiros promoveram o candidato da oposição, Getúlio Vargas. Júlio Prestes foi eleito em 1930, mas Getúlio liderou um golpe em 3 de Outubro do mesmo ano, depondo Prestes. Terminava assim a República Velha e se iniciava o período do Governo Provisório.

Reações
A Revolta Tenentista, também conhecida como Revolução Constitucionalista de 1932, foi um movimento da classe militar paulistana, especialmente em resposta à Revolução de 1930 que retirou do poder o candidato eleito, Prestes. Os paulistas não ficaram nada felizes com a perda do poder presidencial, e através do Partido Republicano Paulista (PRP), reuniram as forças conservadoras contra o Partido Democrático de São Paulo (PDSP) que havia dado apoio à Revolução getulista. São Paulo era a maior representação da estrutura oligárquica, justamente a estrutura que foi prejudicada com a chegada de Getúlio. Podemos dizer que a Revolta Tenentista foi, primeiramente, uma luta entre paulistas.

São Paulo insatisfeita
http://i433.photobucket.com/albums/qq52/RICKY_1972/rev3219.jpg
Militantes da Revolta Tenentista de 1932.

 Plínio Barreto foi nomeado para o governo de São Paulo, mas, como era constitucionalista e fiel ao governo getulista, não obteve simpatia. Em seu lugar surgiu Laudo Ferreira de Camargo, que também renunciou em 1931. Manuel Rabelo governou o estado no lugar destes, e como era ligado aos tenentes, conquistou o apoio dos paulistas. Em Fevereiro de 1932, o Partido Democrático rompe com Vargas e se aproxima dos republicanos paulistas do PRP, seus antigos inimigos, formando a Frente Única Paulista (FUP). Basicamente, a FUP exigia autonomia administrativa para o estado de São Paulo e se opunha ao governo provisório de Getúlio (que de provisório só tinha o nome).

Rompimento e desconfortos
Vargas tentou frear a crescente revolta paulista, nomeando Pedro de Toledo como interventor do estado de São Paulo. Pedro apresentou o Código Eleitoral aprimorado e propôs novas eleições presidenciais para 1933. Mas isso não satisfez o movimento tenentista. A situação toda piorou com a morte dos estudantes Miragaia, Martins, Dráusio e Camargo, estudantes simpáticos ao movimento mortos pelas forças getulistas. Surge então o grupo MMDC (iniciais dos estudantes mortos), com o intuito de derrubar Vargas. O movimento tenentista ganhava cada vez mais força.

A Revolta explode
http://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/img/revolucao_constitucionalista_de_1932_ontem_e_hoje_1__2013-08-21183325.jpgEm 9 de Julho de 1932, na capital de São Paulo, explode a Revolução Constitucionalista. Isidoro Dias Lopes, um general, é o líder do movimento. Ele já havia lutado na revolta de 1924. O movimento teve ainda apoio de militares como Bertoldo Klinger e Euclides Figueiredo, além de diversos segmentos das oligarquias e da classe média paulista.O conflito com as forças federais durou poucos meses. Os paulistas se esforçaram muito e realmente desejavam emancipação em relação ao governo Vargas. A mobilização industrial foi imensa, tanto para produção de armas quanto de inúmeros gêneros de primeira necessidade. O destaque industrial paulista fica ainda mais evidente com o conflito. Mas esse destaque seria suficiente para vencer o governo?

Isolamento 
O estado de São Paulo, mais industrializado do que o resto do país, mesmo com toda a sua força, não conseguiu resistir. Estava, agora, isolado. Os tenentistas pensavam poder contar com o apoio de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul, mas, embora estes governos se declarassem favoráveis ao movimento, ironicamente se mantiveram ao lado de Vargas. Em 1 de Outubro de 1932 a revolta paulistana foi esmagada e o fracasso da Revolução Tenentista se completou com a assinatura da rendição que terminou o combate. Os principais líderes do movimento perderam seus direitos políticos e foram deportados para Portugal. Getúlio nomeou então, como interventor de SP, o general Valdomiro Lima, tio de sua mulher, mas ficou no cargo apenas até 1933.


Lições e consequências
http://revistaescola.abril.com.br/img/historia/revolucao-32g.jpg
Cartaz de convocação do movimento paulista.
A Revolta Tenentista de 1932 mostra a sempre frágil estrutura federativa do Brasil. O sentimento de separatismo é sempre presente, principalmente em estados como São Paulo, Rio Grande do sul, Santa Catarina e Paraná. Apesar da vitória de Getúlio, todo o seu governo foi marcado por uma relação difícil com o estado revoltoso. São Paulo é o exemplo das revoltas e revoluções brasileiras sempre mais regionais e locais do que propriamente nacionais. Enquanto a Intentona Comunista não chegou nem perto de ameaçar ou instabilizar o governo varguista, a Revolta Tenentista demonstrou muito mais poder de atingir o governo central. Os paulistas fortificaram seus laços culturais e sua identidade ainda mais após esse episódio, e o desejo de emancipação, embora distante, ainda é existente. Os governos federais, no Brasil, sempre parecem mais pautados pelo coleguismo de apadrinhamento do que propriamente o planejamento nacional, e a Revolução de 1932 deixa isso bem evidente.


Referências:
Fundação Getúlio Vargas
O imperador Meiji, em trajes ocidentais.
Meiji e a Era das Luzes
O imperador Meiji definitivamente foi uma das mais importantes figuras políticas do Japão. Foi responsável por elevar a economia e a indústria do Japão, realizar reformas militares e administrativas, tornando a terra do sol nascente no único país não europeu com um desenvolvimento industrial próprio.

O Imperador
Batizado de Mutsuhito, nascido na cidade de Quioto em 3 de Novembro de 1852, governou o Japão de 1867 a 1912. Foi o segundo filho do imperador Kōmei e da imperatriz Nakayama Yoshiko. Em 1860, ele recebeu o título coroado de príncipe, e em 1867 ele sobe ao trono como sucessor de seu pai, falecido nesse mesmo ano. Após sua coroação, ele toma o nome de Meiji (na escrita japonesa 明治天皇, Meiji-tennō na transliteração para o Português), que em nossa língua significa algo como "Luz". Essa seria a marca de toda uma era criada por ele e que mudaria o destino de seu país para todo o sempre.

O Japão dos Shoguns
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/c0/FirstJapaneseMission.JPG
Shoguns e samurais, a classe que dominou o Japão por séculos até ser vencida por Meiji.
Quando Meiji nasceu, em 1852, o país era composto por uma série de "reinos" governados pelos senhores da guerra, conhecidos como Shoguns. O país era dividido em cerca de 250 shogunatos independentes. A figura do imperador era praticamente decorativa. Isso era semelhante ao regime feudal europeu, onde os senhores feudais possuíam o poder de fato, enquanto a figura do rei era simbólica e não muito expressiva. Na prática, o imperador do Japão possuía pouco poder de atuação, e o governo era descentralizado. Cada Shogun era praticamente o senhor soberano de suas terras.

O fim do shogunato Tokugawa
Uma das primeiras ações de Meiji, apoiado por Saigo Takamori e Ōkubo Toshimichi, foi conduzir a reforma do poder imperial através da Guerra Boshin nos anos de 1868 e 1869: ele dissolveu o sistema de shogunatos e instalou o poder centralizado em sua figura, dando novamente a autoridade suprema para o imperador. Isso não significou a perda do poder dos Shoguns, entretanto, que se tornaram importantes figuras militares em seu governo.

Transformando uma nação feudal 
Meiji Emperor (Mutsuhito)
Meiji com suas condecorações.
O Japão de 1867, como qualquer nação não europeia, era basicamente um país primitivo. A nação era praticamente feudal: cada Shogun possuía um território e os servos daquele território trabalhavam para sua manutenção. A maioria da população vivia no campo, e a atividade principal era a agricultura. Não havia qualquer industrialização no país. Meiji logo percebeu que a Ásia, a África e as Américas eram cada vez mais vítimas do imperialismo europeu, e que mesmo um grande império como a China havia se transformado em presa fácil para os ingleses, vitimados pelas Guerras do Ópio. A única solução, para ele, era tornar seu país uma potência respeitável capaz de fazer frente aos desmandos da civilização ocidental. E foi exatamente isto o que ele fez: conduziu uma série de reformas administrativas, criou um sistema de industrialização nacionalista e próprio (sem se submeter aos europeus), construiu ferrovias e hidrovias, deu maior destaque às cidades (sem prejudicar a agricultura) e criou um exército unificado e modernizado. De certa forma, Meiji criou um governo contraditório: se por um lado ele desejava evitar a dominação ocidental de seu país, ele mesmo acabou por "ocidentalizar" o Japão, inserindo alguns costumes e estruturas de produção típicas do Oeste.

O despertar do Dragão
O Japão da época em que o comodoro inglês Matthew Perry chegou com seus navios negros pedindo pela abertura comercial do país era totalmente diferente daquele que passou pelas mãos de Meiji. A nação agrária, feudal e fragmentada foi transformada em uma potência mundial, unificada, centralizada, industrializada e com uma significativa força militar terrestre e naval, capaz de escapar das imposições econômicas europeias.

A rebelião Satsuma e a rebelião Chōshū
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/a/a7/KumamotoSoldiers1877.jpg
Oficiais imperiais japoneses da guarnição de Kumamoto, que resistiram à rebelião Satsuna em 1877.
Os shoguns formaram a elite política e militar após a restauração de Meiji. Mesmo com estes privilégios, a insatisfação cresceu entre a classe samurai. Os daimyōs dos shogunatos de Satsuna e Chōshū se rebelaram contra o imperador Meiji em 1877, liderados por Saigo Takamori, desejosos de reconquistar sua autonomia. A cidade de Kumamoto foi cercada pelos rebeldes, mas as tropas imperiais conseguiram esmagar a revolta. Os líderes responsáveis pela rebelião foram punidos, e o imperador continuou intacto em seu trono.

Morte e Legado
Meiji faleceu em 1912 por causas naturais. Seu filho Yoshihito, sucedeu o pai. Meiji não realizou apenas a industrialização de seu país. Ele tornou o Japão em uma potência mundial e pavimentou o caminho para a rápida evolução tecnológica e militar que tomaria conta do país nos anos 1930-1940. Assim, podemos considerar que se o Japão foi a única potência não europeia da época, isso deve-se muito a Meiji e sua Era das Luzes, nome apropriado para suas conquistas e a época de seu governo.

Biografia:
Encyclopedia Britannica
Japan Reference


http://www.history.com/images/media/slideshow/cold-war-communist-leaders/soviet-leader-joseph-stalin.jpg
Stalin, em um discurso perante os membros do Partido Comunista.

A figura de Adolf Hitler inspira, ao mesmo tempo, ódio e admiração. O líder do último Reich alemão é tido como uma das figuras mais monstruosas (e mais geniosas) de toda a História. Se, por um lado, seus crimes (sempre aumentados por seus críticos, e sempre amenizados pelos revisionistas) parecem não encontrar nada à altura, temos na figura de outro homem, nascido na Geórgia, um nível de atrocidade superior ao de Hitler e de qualquer outro líder de Estado de que tenhamos notícias. Falamos da emblemática figura de Joseph Stalin. Responsável por crimes (muitas vezes exagerados) de incontáveis  vítimas, pela modernização da Rússia e pelo enfrentamento ao Nazismo, Stalin pode ser considerado o líder totalitário mais intrigante já existente.

A dura infância

Foto de Stalin, ainda criança.
Nascido em 18 de Dezembro de 1879, na pequena cidade rural de Gori, na Geórgia, filho de um sapateiro chamado Besarion Jughashvili, e de uma lavadeira chamada Ketevan Geladze, o garoto batizado de Iosif Vissarionovich Dzhugashvili (mais tarde conhecido como Stalin) levou uma infância humilde e difícil. Aos 7 anos, ele contraiu varíola, o que causou cicatrizes em seu rosto e deformou levemente seu braço esquerdo. É dito que isso lhe tornou motivo de piada de outros garotos, o que, desde cedo, lhe causou um senso de inferioridade. Esse traço de insegurança e a necessidade constante de afirmar-se como poderoso criaria em Stalin um caráter perverso, que definiria muito de suas ações particulares e políticas. 


O caminho político

Sua mãe, uma cristã ortodoxa fervorosa, queria que ele se tornasse padre. Na escola religiosa de Gori, ele se saiu bem, graduando-se no Seminário Teológico de Tiflis em 1894. Mas sua vida seguiria um rumo menos sagrado. Em 1895, aos 16 anos, Stalin entra para o grupo separatista Messame Dassy, uma organização que lutava pela independência da Geórgia em relação ao Império Russo. Alguns dos membros eram socialistas, e foi assim que Stalin se introduziu aos escritos de Karl Marx e Vladimir Ilitch Lênin. Em 1898, ele se une ao grupo e inicia aí sua vida de ativismo político.


Assaltando bancos
Em 1901, ele se une ao Partido Social Democrático do Trabalho, atuando como um revolucionário no movimento trabalhista. Nessa época, Stalin ganhou fama realizando diversas ações clandestinas e criminosas, entre elas, assalto à bancos. Em 1902 ele foi preso por conta de seu ativismo político e enviado à Sibéria, lugar para onde ele iria várias vezes durante sua vida como revolucionário. Nessa época, ele adota o apelido de Stalin, que significa "aço" em Russo.

Lutando na Revolução
Stalin, ainda jovem, em fotos tiradas pela polícia czarista durante uma de suas prisões.

Stalin ganhou notoriedade atuando em operações durante a Revolução socialista na Rússia, convocando reuniões, distribuindo panfletos e ajudando a organizar greves e protestos. Ele foi marcado pela Okhranka - a polícia secreta tzarista - como um fora da lei e continuou seu trabalho na clandestinidade, escondendo-se, roubando bancos para levantar fundos, fazendo sequestros e praticando extorsões. Seu roubo mais famoso a um banco foi o assalto ao Banco de Tiflis, que ocasionou muitas mortes e resultou em um furto de um valor estimado em U$3.4 milhões de dólares. Em 1917 os Bolcheviques tomam o poder, fazendo o tzar Nicolau II abdicar do trono. Os revolucionários executaram o tzar e toda a sua família, posteriormente. Em Outubro, sob a liderança de Lênin, os Bolcheviques se afirmam no poder em definitivo. 

Conquistando o Partido
Em 1922 ele foi apontado como secretário geral do Partido Comunista. Na época, não era um cargo muito significante, mas garantiu a Stalin o controle sobre a escolha dos membros do Partido, o que lhe permitiu formar uma ampla base de aliados políticos. Estes aliados seriam o sustento e a garantia durante seus quase 20 anos ininterruptos de poder. Stalin conseguiu constituir a cúpula do Partido exclusivamente de aliados seus, o que, inevitavelmente, fez com que todos os grandes homens de poder devessem obediência e lealdade a ele. Após a morte de Lênin em 1924, Stalin começou a executar os antigos líderes do Partido Comunista, tomando total controle sobre ele. Parte foi executada, parte foi exilada. Stalin mal chegara ao poder e agora já não possuía praticamente oposição alguma. Seus excessos de paranoia fizeram com que ele eliminasse também membros da própria base aliada, da alta cúpula do Partido e depois, oficiais e civis acusados de "atividades contra revolucionárias".

Coletivização agrícola
http://img.timeinc.net/time/personoftheyear/archive/photohistory/reflow/notorious/stalin.jpgNo final dos anos 1920, Stalin iniciou a política de coletivização agrícola. Isso significou o confisco de praticamente todas as propriedades rurais e sua divisão em pequenas faixas de terra, divididas entre comunidades de agricultores que realizavam o trabalho em conjunto e, em troca, recebiam pagamentos e/ou recompensas em gêneros alimentícios. Essas eram as fazendas coletivas. Entretanto, a realidade diferia da teoria: na prática, os fazendeiros, já miseráveis na época do czarismo, continuaram na mesma situação de miséria, com a única diferença que não sustentavam mais um imperador, mas sim, todo um partido. A produção agrícola caiu e, vítimas de um projeto forçado e pragmático, milhões morreram durante estas políticas de coletivização.

Industrialização rápida
Herança do período imperial, a Rússia ainda era uma nação praticamente medieval. A maioria da população vivia no campo e as indústrias, muito escassas, eram extremamente concentradas e estavam, em sua maioria, nas mãos dos capitais estrangeiros. Stalin primeiro realizou a nacionalização destas indústrias e, depois, forçou uma política de rápida industrialização. Inúmeros contingentes de pessoas retiradas do campo eram levadas à força para trabalhar nas novas regiões industriais. A tirania do czar foi substituída pela tirania de Stalin e dos dirigentes do partido. Os opositores do projeto eram presos ou executados. Entretanto, Stalin conseguiu garantir uma rápida industrialização que mostrou progressos e resultados consideráveis. Mas, enquanto a indústria crescia, o setor agrícola recuava.








Expurgos, exílios e prisões
Os números mais exagerados apontam que Stalin foi responsável pela morte de cera de 25 a 43 milhões de pessoas. Estes números, contudo, carecem de fontes históricas confiáveis, fruto de uma contabilidade muitas vezes errada (vítimas de desastres naturais e baixas de guerra são colocadas nessa conta, por exemplo). Independente do número, é certo que a casa das vítimas de Stalin ultrapassa os milhões. Suas vítimas mais comuns eram opositores políticos, oficiais de destaque, civis que se recusavam à trabalhar nas áreas determinadas, entre outros. Geralmente, eram fuzilados, mas também eram enviados ao exílio ou a trabalhos forçados nos campos chamados de Gulags, sendo os mais famosos encontrados na fria Sibéria.


A foice e o martelo e a suástica nazista

http://www.ibhistorytopics.com/wp-content/uploads/2009/10/nazi-soviet-pact1.jpg
Sátira retratando a aliança entre Hitler e Stalin.
Em 1939, com o início da Segunda Guerra, Stalin realiza um pacto com o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães. A União Soviética da foice e do martelo, liderada por Stalin, e a Alemanha nazista de Hitler, estendem e apertam as mãos em um acordo que, depois, seria quebrado. Dessa forma, a União Soviética alimentou durante um bom tempo o monstro que iria atacá-la, enviando armas, recursos minerais e alimentos para o Reich. Em 1941, os nazistas atacam a URSS, e, mesmo sendo avisado dos perigos do ataque, Stalin não fez qualquer preparativo. As forças do Exército Vermelho, pegas despreparadas, sofrem pesadas baixas. A Alemanha tomou a Ucrânia, Belarus, e chegou até os portões de Moscou.

Vencendo o Nazismo
Em seus expurgos, Stalin matou a maior parte de seus generais veteranos. Um deles, entretanto, sobreviveu: Zhukov. Este brilhante general foi responsável por vencer os nazistas na batalha de Moscou, libertar Leningrado e Stalingrado m 1943 e repelir os nazistas, retirando-os do território soviético. Em 1945, na batalha de Berlim, a capital do antigo Reich é conquistada e a bandeira socialista tremula no topo do Reichstag. Stalin aproveita os méritos de seus poucos generais competentes e clama para si a honra de ter vencido o nazismo e o fascismo, "inimigos da revolução proletária".
http://i.dailymail.co.uk/i/pix/2010/05/26/article-0-0226DAE10000044D-264_468x390.jpg
Da direita para a esquerda: Churchill, primeiro ministro britânico; Roosevelt, presidente dos EUA; e Stalin, líder da União Soviética, em encontro estratégico durante a Segunda Guerra Mundial.

Família destruída
Stalin não foi exatamente o melhor modelo de pai e marido. Sua primeira esposa, Ekaterina Svanidze - com quem teve um filho e se casou em 1906, morreu em 1907, de tifo. Sua segunda esposa, Nadezhda Alliluyeva, com quem se casou em 1919, ela provavelmente sofreu de bipolaridade e transtornos mentais. Indícios deixam nítido que a vida do casal era tumultuada e confusa, com discussões e brigas que aconteciam até mesmo em público. Ela foi encontrada morta em sua cama, com um revólver ao lado de seu corpo. Mas isso em si não comprova de fato que ela morreu de suicídio, já que existe a probabilidade de ela ter sido executada. Eles tiveram dois filhos: Vasily Iosifovich Dzhugashvili, que morreu por conta de alcoolismo crônico, e Svetlana Iosifovna Alliluyeva, com uma vida que deixou indícios de quadros de depressão grave. 

O culto à Stalin
Pôster de propaganda soviética, retratando Stalin.
Durante sua vida política, Stalin instituiu um verdadeiro culto à sua imagem, que em vários aspectos superou até mesmo o culto à Marx, Engels e Lênin. Diversos locais recebiam ruas com seu nome, estátuas, memoriais e outras decorações que ilustravam o "paizinho", como era carinhosamente chamado pelo povo russo. Esse culto à personalidade não se limitava à monumentos e referências culturais: tomou a forma de uma séria censura política e cultural. A mínima crítica a Stalin era tida como propaganda capitalista de espírito burguês, e inúmeros artistas, escritores, romancistas e diretores de cinema foram presos ou exilados muitas vezes sem nem mesmo realizar qualquer crítica ao regime stalinista.

Morte e legado
Stalin morreu em 5 de Março de 1953, supostamente por um ataque cardíaco. Apesar de suas atrocidades e do pesado jugo que exerceu ao povo soviético, sua morte foi recebida com forte tristeza e um luto praticamente total do povo. Entretanto, é difícil saber se choravam por sentirem sua falta ou pelo medo de futuras repressões, conduzidas por uma política que criou na mente do povo um misto de admiração e temor. Stalin não deve, entretanto, ser tratado meramente como um monstro. A vida que levou influenciou fortemente todo o seu comportamento adulto. Se, por um lado, o povo sofreu duros castigos por conta dele, também foi pela direção de Stalin que um país rural e atrasado conseguiu sua industrialização em menos de duas décadas, algo que demorou quase dois séculos para a Europa ocidental. Também é respeitável a conquista sobre os nazistas, que sofreram suas primeiras derrotas por conta dos soviéticos. Não devemos atribuir todos estes méritos a Stalin, mas sim a cada um dos homens e mulheres que deram suas vidas em prol de seu povo. Ele permanece como um ícone: não sabemos o que é verdade ou mentira a seu respeito, e, como a História testemunha, o pior assassino pode ser transformado em um santo, e o mais nobre dos santos pode ser feito como demônio, tudo de acordo com as versões "históricas" criados em torno de um personagem. A URSS que conseguiu competir com os EUA deveu muito a Stalin. O apogeu do regime, bem como sua queda em 1991, foram consequências diretas das políticas stalinistas.

http://seanmunger.files.wordpress.com/2013/10/zombie-stalin.jpg
Stalin, em seu caixão, durante funeral no Mausoléu dos grandes nomes da URSS. Durante algum tempo, permaneceu ao lado do mausoléu de Lênin, mas protestos posteriores exigiram a retirada de seu corpo do local.


Referências externas:
Biography.com

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